quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Três Mundos - Parte 6 - A Dança do Fim do Dia


O sol já havia se posto e os preparativos para o baile estavam feitos. Era fácil organizar essas coisas rápidas, quando se tinha dinheiro. E a família Drineville tinha muito dinheiro.
Os convidados chegavam, fossem a pés por morar perto, fossem de carruagens por serem de cidades diferentes. 

Os irmãos de Alice já se encontravam no salão, bebendo, paquerando cada garota que passava e fugindo de maridos zangados pelos galanteios com suas esposas.
A família Drineville era uma família festiva e alegre, muito querida em Enemus, por isso, mesmo com convites de última hora o baile não teve uma falta, e aquele seria o assunto durante algumas semanas.
Dellyson, usando trajes formais caminhava entre os convidados, conversando alegremente com cada um. Rose usava um vestido comprido e verde-musgo, transpirava seriedade mesmo num clima festivo.
Noah estava no meio do salão, comia tudo que os serviçais traziam em suas bandejas. Negava-se a soltar sua lança e partes de sua armadura ainda cobriam seu corpo, mas usava trajes formais também. Roupas de um príncipe, modos de um guerreiro.
A música tocava alegre e as horas passavam. Fora quando o som parara e as luzes voltaram-se para a grande escadaria no meio do salão.

Alice caminhara descendo as escadas, logo atrás dela, Miranda.
A arquimaga usava um longo vestido, e talvez fosse pelo costume, mas o azul caía-lhe maravilhosamente bem, seus cabelos amarrados num coque alto e formal, onde se podia ainda ver sua mecha roxa. E jóias enfeitavam-lhe a pele.
Miranda vinha simples, um vestido curto e dourado, seus os cabelos numa longa trança enfeitada por presilhas em formado de borboleta. Mais simples, mas nem por isso menos bonita.
Noah olhava para Alice, era uma elegância tamanha que o surpreendia. Sentia um calor.
-- Palmas para minha filha que viera fazer uma visita e é o motivo dessa festa! – Gritou Dellyson e ouviu-se um oceano de palmas sincronizadas. – E ao seu noivo! – O neko levantou o braço do guerreiro, havendo mais palmas.
Noah sentia-se envergonhado, mas estranhamente bem.
Alice aproximara do homem. – Perdão, Noah! Isso não vai demorar...
-- Não! Não! Tudo bem! – Ele falava nervoso.
-- Agora vamos à Dança do Fim do Dia! – Gritava Dellyson.
A Dança do Fim do Dia era um ritual dentro da família Drineville, eles acreditavam que quando se havia festas, deviam trocar de dia com dança, então a dança começava às 23:50 e acabava 00:10, no dia seguinte.
Miranda caminhava para sentar-se. Assim que se senta, homens começam a lhe chamar para dançar. Jovens e velhos, todos implorando por uma dança com a boneca. Todos os pedidos negados. Sua mente sempre no seu criador.
Os bardos começavam a tocar seus instrumentos e logo todos se juntaram ao centro do salão onde ficavam sob o brasão da família que ficava desenhado no teto enfeitado por belos lustres, que refletiam o chão quadriculado em preto e branco abaixo.

Os casais se juntavam um a um, rodeando Alice e Noah.
-- Eu vou ter que dançar? – Ele a olhava.
Envergonhada ela acena com a cabeça.
-- Isso tinha no meu contrato?
Ela aproximou em silencio.
-- Eu não sei dançar... – Noah disse nervoso.
-- Só se mexa...
Ela o tocou, juntando seus corpos. Toda pele de Noah se arrepiou, uma sensação diferente, boa, divina. Quase soltou sua Lança, estava quase flutuando com o toque da mulher, nunca sentira isso, queria simplesmente abraçar Alice.
O meio-demônio não sabia, mas a garota sentia a mesma coisa, como se ambos se completassem naquela dança.

...
A dança acontecia, era uma música doce e tranqüila.
Dellyson dançava sozinho, o relógio estava correndo e após olhar os ponteiros quase no fim do dia, Rose sai da sala.

Para Noah, era como se nunca tivesse existido o submundo, embora ainda ouvisse os gritos de dor ao longe. Alice ficava vermelha e por um momento esqueceu todos os seus problemas.
Homens brigavam para fazer Miranda dançar, mas a boneca apenas ficava sentada, olhando para o seu casal de amigos dançando, quando sua boca formou um pequeno sorriso.
Ao ver o sorriso, os homens brigavam mais. Queriam a mulher para si. Nenhum deles nunca a teria.
O relógio fez o som de meia-noite. Alice sabia que devia ir, mas queria ficar ali mais um pouco.
A dança passou, deu 00:05 e a mulher continuava ali, em passos lentos ao som da música.
-- Preciso ir! Minha mãe está esperando...
Noah fez um muxoxo e ela continuou ali por um tempo.
Foi quando olhou o relógio:
00:20.
Não falou nada, Alice apenas saiu correndo, a dança ao seu redor continuava.
Noah a seguiu, Miranda empurrou os presentes que já estavam na sua frente e correu também, deixando para trás suspiros apaixonados e corações quebrados.

...
Alice abrira a porta da estufa, o local marcado pela sua mãe. Estava escuro, mas podia-se ver a silhueta de algo no meio da sala. Alice acendera lampiões e tochas, iluminando o local. Rose Drineville estava ao centro, sentada de pernas cruzadas numa cadeira de balanço, em seu braço uma ave azul de penas bonitas e brilhantes.

-- Está atrasada... Vinte minutos... – Disse Rose sem precisar de um relógio.
-- Perdão mãe... Eu estava na Dança do Fim do Dia.
Rose levantou-se e disse:
-- Não importa mais... Você realmente quer as Penas de Teleporte, não quer? – Ela passava os dedos no rabo penoso da ave.
-- Ah! Sim... – Ela sorria.
-- E eu vou lhe dar as penas. – Falava Rose quando a ave voou, pousando na cadeira, que balançava. 
--... Mas terá que me enfrentar...
Um círculo se formava no chão à frente de Rose no meio do brasão desenhado. Do círculo de luminescência verde algo saia, era Dellyson.

-- Papai? – Assustava-se Alice.
-- Sim... Seu pai... – Riu Rose. – Meu familiar...
Rose era uma invocadora, uma espécie de mística que usa magias de invocação de monstros.
-- Perdão querida... – Disse Dellyson com um olhar triste.
-- O objetivo, Alice... – Disse Rose. --... É pegar a Ave de Teleporte, se você conseguir... Poderá fazer o que quiser e não falarei mais nada, se não conseguir, ficará aqui conosco e cuidará dos negócios da família.
Alice suspirou e olhou para seus pais.
-- Eu aceito! – Disse a arquimaga
-- Pode não parecer, meu bem... – Disse Rose levantando a mão. --... Mas mamãe se orgulha muito de você.
O corpo de Dellyson parecia borbulhar. Como se seus ossos crescessem. Alice tapava os olhos para não ver aquela cena, quando a pele de seu pai se rasga e o homem de baixa estatura se torna um grande leão. Um felino de juba dourada, com o triplo do tamanho de um leão normal. O leão que é Dellyson urra monstruosamente para o alto, fazendo o chão tremer.
Alice pega sua varinha que estava amarrada na perna. 
Estava pronta para o desafio.

Continua...

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