O sol já havia se posto e os preparativos para o baile
estavam feitos. Era fácil organizar essas coisas rápidas, quando se tinha
dinheiro. E a família Drineville tinha muito dinheiro.
Os convidados chegavam, fossem a pés por morar perto, fossem
de carruagens por serem de cidades diferentes.
Os irmãos de Alice já se encontravam no salão,
bebendo, paquerando cada garota que passava e fugindo de maridos zangados pelos
galanteios com suas esposas.
A família Drineville era uma família festiva e alegre, muito
querida em Enemus, por isso, mesmo com convites de última hora o baile não
teve uma falta, e aquele seria o assunto durante algumas semanas.
Dellyson, usando trajes formais caminhava entre os
convidados, conversando alegremente com cada um. Rose usava um vestido comprido
e verde-musgo, transpirava seriedade mesmo num clima festivo.
Noah estava no meio do salão, comia tudo que os serviçais
traziam em suas bandejas. Negava-se a soltar sua lança e partes de sua armadura
ainda cobriam seu corpo, mas usava trajes formais também. Roupas de um
príncipe, modos de um guerreiro.
A música tocava alegre e as horas passavam. Fora quando o
som parara e as luzes voltaram-se para a grande escadaria no meio do salão.
Alice caminhara descendo as escadas, logo atrás dela,
Miranda.
A arquimaga usava um longo vestido, e talvez fosse pelo
costume, mas o azul caía-lhe maravilhosamente bem, seus cabelos amarrados num coque
alto e formal, onde se podia ainda ver sua mecha roxa. E jóias enfeitavam-lhe a
pele.
Miranda vinha simples, um vestido curto e dourado, seus os
cabelos numa longa trança enfeitada por presilhas em formado de borboleta. Mais
simples, mas nem por isso menos bonita.
Noah olhava para Alice, era uma elegância tamanha que o
surpreendia. Sentia um calor.
-- Palmas para minha filha que viera fazer uma visita e é o
motivo dessa festa! – Gritou Dellyson e ouviu-se um oceano de palmas
sincronizadas. – E ao seu noivo! – O neko levantou o braço do guerreiro,
havendo mais palmas.
Noah sentia-se envergonhado, mas estranhamente bem.
Alice aproximara do homem. – Perdão, Noah! Isso não vai
demorar...
-- Não! Não! Tudo bem! – Ele falava nervoso.
-- Agora vamos à Dança do Fim do Dia! – Gritava Dellyson.
A Dança do Fim do Dia era um ritual dentro da família Drineville,
eles acreditavam que quando se havia festas, deviam trocar de dia com dança,
então a dança começava às 23:50 e acabava 00:10, no dia seguinte.
Miranda caminhava para sentar-se. Assim que se senta, homens
começam a lhe chamar para dançar. Jovens e velhos, todos implorando por uma
dança com a boneca. Todos os pedidos negados. Sua mente sempre no seu criador.
Os bardos começavam a tocar seus instrumentos e logo todos
se juntaram ao centro do salão onde ficavam sob o brasão da família que ficava
desenhado no teto enfeitado por belos lustres, que refletiam o chão
quadriculado em preto e branco abaixo.
Os casais se juntavam um a um, rodeando Alice e Noah.
-- Eu vou ter que dançar? – Ele a olhava.
Envergonhada ela acena com a cabeça.
-- Isso tinha no meu contrato?
Ela aproximou em silencio.
-- Eu não sei dançar... – Noah disse nervoso.
-- Só se mexa...
Ela o tocou, juntando seus corpos. Toda pele de Noah se
arrepiou, uma sensação diferente, boa, divina. Quase soltou sua Lança, estava
quase flutuando com o toque da mulher, nunca sentira isso, queria simplesmente
abraçar Alice.
O meio-demônio não sabia, mas a garota sentia a mesma coisa,
como se ambos se completassem naquela dança.
...
A dança acontecia, era uma música doce e tranqüila.
Dellyson dançava sozinho, o relógio estava correndo e após
olhar os ponteiros quase no fim do dia, Rose sai da sala.
Para Noah, era como se nunca tivesse existido o submundo, embora
ainda ouvisse os gritos de dor ao longe. Alice ficava vermelha e por um momento
esqueceu todos os seus problemas.
Homens brigavam para fazer Miranda dançar, mas a boneca
apenas ficava sentada, olhando para o seu casal de amigos dançando, quando sua
boca formou um pequeno sorriso.
Ao ver o sorriso, os homens brigavam mais. Queriam a mulher
para si. Nenhum deles nunca a teria.
O relógio fez o som de meia-noite. Alice sabia que devia ir,
mas queria ficar ali mais um pouco.
A dança passou, deu 00:05 e a mulher continuava ali, em
passos lentos ao som da música.
-- Preciso ir! Minha mãe está esperando...
Noah fez um muxoxo e ela continuou ali por um tempo.
Foi quando olhou o relógio:
00:20.
Não falou nada, Alice apenas saiu correndo, a dança ao seu
redor continuava.
Noah a seguiu, Miranda empurrou os presentes que já estavam
na sua frente e correu também, deixando para trás suspiros apaixonados e corações quebrados.
...
Alice abrira a porta da estufa, o local marcado pela sua
mãe. Estava escuro, mas podia-se ver a silhueta de algo no meio da sala. Alice
acendera lampiões e tochas, iluminando o local. Rose Drineville estava ao
centro, sentada de pernas cruzadas numa cadeira de balanço, em seu
braço uma ave azul de penas bonitas e brilhantes.
-- Está atrasada... Vinte minutos... – Disse Rose sem
precisar de um relógio.
-- Perdão mãe... Eu estava na Dança do Fim do Dia.
Rose levantou-se e disse:
-- Não importa mais... Você realmente quer as Penas de
Teleporte, não quer? – Ela passava os dedos no rabo penoso da ave.
-- Ah! Sim... – Ela sorria.
-- E eu vou lhe dar as penas. – Falava Rose quando a ave
voou, pousando na cadeira, que balançava.
--... Mas terá que me enfrentar...
Um círculo se formava no chão à frente de Rose no meio do brasão
desenhado. Do círculo de luminescência verde algo saia, era Dellyson.
-- Papai? – Assustava-se Alice.
-- Sim... Seu pai... – Riu Rose. – Meu familiar...
Rose era uma invocadora, uma espécie de mística que usa
magias de invocação de monstros.
-- Perdão querida... – Disse Dellyson com um olhar triste.
-- O objetivo, Alice... – Disse Rose. --... É pegar a Ave de
Teleporte, se você conseguir... Poderá fazer o que quiser e não falarei mais
nada, se não conseguir, ficará aqui conosco e cuidará dos negócios da família.
Alice suspirou e olhou para seus pais.
-- Eu aceito! – Disse a arquimaga
-- Pode não parecer, meu bem... – Disse Rose levantando a
mão. --... Mas mamãe se orgulha muito de você.
O corpo de Dellyson parecia borbulhar. Como se seus ossos
crescessem. Alice tapava os olhos para não ver aquela cena, quando a pele de
seu pai se rasga e o homem de baixa estatura se torna um grande leão. Um felino
de juba dourada, com o triplo do tamanho de um leão normal. O leão que é
Dellyson urra monstruosamente para o alto, fazendo o chão tremer.
Alice pega sua varinha que estava amarrada na perna.
Estava pronta
para o desafio.
Continua...
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