Layla certa vez se perdera por Gensõ. Pegara uma espécie de
pena mágica que servia de teleporte. A pena a levara à Solasel.
Ela era uma sacerdotisa de Maagany, deusa da bondade e da
vida.
Em Solasel, junto a uma amiga, lutara com um poderoso
místico.
Layla foi quem o matara.
Maagany é uma deusa bondosa e tolerante, mas há uma regra
para seus sacerdotes, machucar apenas em defesa própria, mas nunca, NUNCA
matar.
A deusa deixara Layla por esse pecado, mas a meio-elfa nunca
deixara a deusa.
A mulher voltou para seu continente, agora tinha uma
amiga em Solasel, um ‘filho’ robô e um marido bardo.
Layla casou-se, e no dia seguinte começou, com seu marido
viajante, a construir um templo para a deusa. Orava todos os dias para que
aceitasse seu sacrifício e a mulher parece ter sido atendida, nos dias que se
passaram jovens de vários locais vinham com um chamado de Maagany para
tornarem-se clérigos.
Layla estava feliz.
-- E mesmo sem os poderes divinos, ela se tornou a madre
superiora desse templo... – Dizia Nagilla para Alice.
Ambas se encontravam em uma mesa farta, havia bastante
comida ali, embora fosse comida leve e simples, como pães e bolos. A noviça
explicara que eles ainda estavam em Gensõ, se encontrava em Drimlaê, o
continente do ar. Estavam em uma cidade a oeste do continente. Alice estava bem
mais calma, na verdade estava próxima de Enemus, sua cidade natal.
Miranda fora a uma sala com Layla e dois dos melhores magos
devotos de Maagany da cidade. A madre queria saber de onde vinha seu poder de
cura mesmo não sendo uma humana. Na verdade, a boneca é um achado. Na Faculdade
Mística, era comum dar vida a objetos, alguns recebiam o nome de golens, outros
de familiar. Mas nenhuma dessas criaturas possui poder de cura com o fervor
divino que apenas clérigos possuem, pois esse poder vem da alma, e criaturas
como a própria Miranda, não tem alma.
Alice notara que Noah também não estava na mesa. Ele se
sentara sozinho no canto da sala. Layla havia lhe dado comida, mas os noviços
tomavam distancia e o olhavam feio.
-- Porque você se recusou a curar o guerreiro? – Perguntou a
Arquimaga.
Nagilla parara de comer. Colocara os talheres perfeitamente
bem posicionados ao lado do prato e olhou para o homem, que sentado no chão,
comia em silencio.
-- A madre Layla é às vezes bondosa demais... – Dizia a
noviça, depois se voltando para Alice. – Me surpreendo como pessoas tão legais
como vocês podem andar com meio - demônios.
Alice arregalava os olhos, surpresa.
-- Ah! Você não sabia? – Perguntava Nagilla. – Layla diz que
não devemos julgar ninguém, nem mesmo os demônios... Que ninguém é ruim até que
aja como ruim... Eu acho que demônio bom é demônio exorcizado! – Voltando a
comer.
Alice olhava para Noah, não o conhecia muito bem, mas
lembrava que ele protegera ela e Miranda do Pesadelo.
-- Talvez a sua madre esteja certa... – Falou Alice.
Nagilla se deu de ombros enquanto enchia a boca de comida...
...
Havia acabado a hora do almoço e Layla ainda se encontrava
com Miranda. Nagilla disse que a madre iria conversar com a boneca e depois
iriam usar uma magia para saber de onde vinha seu poder de cura.
Alice já havia descansado e tomado um banho. O templo com
certeza tinha aquela aura típica de Maagany. Trazia uma paz poderosa, talvez
fosse por suas paredes e roupas brancas, mas era como se não existissem
problemas quando se está lá dentro.
A Arquimaga aproximou-se do guerreiro que estava sentado em
uma espécie de jardim. Haviam alguns pequenos pássaros e esquilos, estes
evitavam Noah, mas pareciam gostar da presença de Alice.
-- Bom descansar depois de comer, né? – Dizia a arquimaga
sentando-se ao seu lado.
Noah estava tão desligado que levara um pequeno susto quando
a mulher se sentara, fazendo sua lança, que estava apoiada no banco branco
em que sentavam, cair.
-- Sim... Digo... É bom! – Dizia Noah levantando a lança. –
É diferente... Agradável... – ele ria para si mesmo. – Sei de alguém que
gostaria de estar aqui...
-- Quem?
Noah saiu de seus pensamentos. – O que?
-- Quem gostaria de estar aqui? – Perguntou novamente.
-- Ah! – Silencio. – Um amigo...
-- Hum! – Alice se sentia um pouco desconfortável pela falta
de assunto, até que notara seu olho machucado. – Isso aí... – apontando para o
olho. – Dói muito?
-- Isso? Não... Não... Faz muito tempo...
Alice o olhava como se esperasse que continuasse a história.
-- Luta com dragões de gelo... – Ele disse. – Uma dragoa de
TPM não é nada legal. – Ele dava um sorriso. – Você se daria bem com ela... –
Disse Noah se lembrando das magias de gelo lançadas pela Arquimaga. – Você é
bem poderosa.
O rosto de Alice corou, era bom ser reconhecida, era uma das
melhores alunas da sala, ouvia elogios de amigos e professores, mas era bom
ouvir de um desconhecido.
-- Obrigada! – Silencio – Obrigada também por nos salvar. –
Ela dizia olhando as flores do jardim.
-- De nada... – Ele respondia olhando para as mesmas flores.
Tulipas lilases.
...
Estava escuro e frio. Escuro, frio e silencioso.
Místicos devotos de Maagany usaram aquela magia,
transportaram Layla para aquele lugar.
O subconsciente de Miranda.
Layla e seu inseparável robô caminhavam, enquanto a madre
orava em voz baixa para a deusa da vida, tentando entender aquela local.
A madre e Alice conversaram sobre Miranda, a Arquimaga a
explicara que aquela bela garota de cabelo lilás era uma boneca, um tipo de
magia simples que imitava vida, nada muito sério, nada complicado.
Mas Miranda curava de uma forma diferente, era um poder
divino, como um místico poderia simular poder divino? Isso assustava Layla, mas
mais ainda assustava andar ali. Certa vez quase morrera e quase perdera uma
amiga no reino dos sonhos. Mas era uma madre agora, mesmo sem o poder direto de
Maagany tinha fé.
Era suficiente.
Era suficiente.
O robô voava ao seu redor quando apontou ao longe um brilho
no meio da escuridão.
Layla estava certa, haviam lembranças naquela mente de
brinquedo. Miranda era especial.
O brilho se aproximara e logo formava uma porta. Layla a abriu e era como
se visse pelos olhos de Miranda, como se visse coisas de seu passado
.
Layla não sabia, mas a visão era do dormitório abandonado do
Corredor do medo, mas ainda estava perfeitamente intacto. Os livros eram novos,
as paredes bem pintadas e o local tinham vários quadros de lindas mulheres e
muitos espelhos pendurados nas paredes.
Layla podia ver o rosto de Miranda em um dos espelhos. A
boneca usava uma espécie de roupa de empregada e nos seus lábios sempre em
linha reta, havia um sorriso lindo e encantador.
-- Você é tão perfeita, Miranda! – Dizia alguém na sua
frente, mas pela alegria da boneca seus olhos se fecharam, não possibilitando
Layla de ver quem era o dono da voz. – Como eu queria que você fosse real! Só
você me entende! Eu daria qualquer coisa...
-- Qualquer coisa? – Disse outra voz, cortando o primeiro.
Essa segunda voz era tão linda, tão poderosa que fez Layla se sentir a criatura
mais imperfeita do mundo só a ouvi-la.
As imagens ficaram densas e embaralhadas, havia um brilho
bonito e calmo. Até que a meio-elfa viu ao longe uma imagem que brilhava em
meio às trevas.
Um lindo pavão de penas roxas.
...
Alice e Noah estavam na sala que outrora servia para o
almoço. Agora não havia nada no local, apenas almofadas brancas que os clérigos
e noviços usavam para apoiar os joelhos enquanto se perdiam em horas de orações
silenciosas. Como o templo era um local pequeno alguns cômodos eram usados para duas ou mais coisas diferentes.
Layla vinha acompanhada de Miranda e seu pequeno robô. A
boneca com sua expressão fria e silenciosa.
-- E então madre Layla, descobriu alguma coisa? – Perguntava
Alice.
-- Nada... – Respondia a madre. – Mas de uma coisa estou certa,
ela parece amar muito seu criador, as poucas palavras dela eram sobre ele. Onde
ele está?
A expressão no rosto de Alice foi de preocupada para triste. –
Não sabemos, nem mesmo ela sabe... E nossa única pista... – Ela olhava para
Noah.
-- O que? – Ele dizia. – Eu não sei de nada, eu juro! Sou só
um estrangeiro perdido.
-- Não... Não você... Aquela mulher... – Ela se lembrava do
bilhete deixado pelo criador de Miranda que a anjo havia pegado. – Ela levou
nossa única ideia...
-- Ah! A Estella...
-- Você a conhece? – Perguntava Miranda, seus olhos tremiam
como se houvesse esperança.
-- Não... Mas parece que ela me conhece muito bem...
-- Acho que precisamos encontrá-la. – Dizia Alice. – Mas
onde?
Noah levantava a mão como uma criança pronta para responder
uma pergunta. Ele lembrava que havia ido à torre da mulher e quando a parede
fora quebrada pôde ver o local onde a torre se encontrava.
--Talvez você saiba onde é... – Dizia Noah para Layla.
-- Eu preciso ver... – Ela sorriu e virando-se para trás: --
Nagilla! Chame os místicos novamente! Temos mais uma mente confusa! – O robô
acenou a cabeça em confirmação.
Nagilla obedeceu.
Continua...
Nenhum comentário:
Postar um comentário