quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Três Mundos - Parte 5 - Problemas familiares



-- Ele é meu noivo! – Apontando para Noah.
Houve silêncio na mesa. Noah com a boca suja de comida olhava perplexo para Alice, enquanto Miranda não entendia nada.
-- Ele? – Perguntou Rose, agora olhando para a filha.
Alice respirou e tomou postura. – Exatamente! Ele é meu noivo!
Rose também se levantou. – Quem é ele? De que família ele é? É nobre? – Ela olhou para o guerreiro. – Ele nem tem um olho. Onde você perdeu esse olho?
-- Lutando... – Ele responde. – Lutando com trolls em um pântano.
Alice virou-se para ele sem entender. Não havia perdido o olho para dragões de gelo?
-- Então isso é maravilhoso! – Gritou Dellyson também se levantando. – Precisamos de uma comemoração... Um baile... Amanhã! Amanhã teremos um baile! – E saiu da mesa, comunicando seus criados sobre o baile.
Rose fitou sua filha, com um olhar sério e frio, então saiu da mesa também, em silêncio.
Alice sentou novamente, relaxando o corpo na cadeira, enquanto massageava suas têmporas.
-- O que? Como assim? Quando? Onde? – Gaguejava Noah com um pedaço de frango em mãos.
-- Desculpe Noah... – Dizia Alice, envergonhada.
-- Sempre achei vocês um bonito casal. – Dizia Miranda, sua expressão era séria, mas seus olhos pareciam sorrir.
Os dois a olhavam em negação.

...
Ficara tarde. A madrugada na mansão Drineville era silenciosa e fria. O vento entrava pelas janelas e ecoava pelos largos corredores, cantando enquanto apagava algumas velas usadas para iluminar partes do castelo em candelabros de ouro.

Alice andava por meio a um desses corredores, usava uma camisola rosada que escondia as curvas de seu corpo, embora seus seios ainda fossem notáveis.
Tinha ido para seu quarto, estava com saudade do local onde dormira toda infância. E o local continuava idêntico, mas não estava com sono.
Fora até a cozinha, comeu um pão com um copo de leite e depois caminhou para um parapeito no segundo andar. A arquimaga observava o jardim da frente, era mais bonito ainda a noite com vários vaga-lumes o enfeitando. Ao lado, um pouco distante vira a estufa de sua mãe, o local onde havia brincado muito quando nova. Soltou um suspiro e apoiou-se com os cotovelos na pedra fria que era o parapeito.
-- Sem sono? – Soou a voz de Noah, assustando a mulher, que deu um pequeno pulo. O homem estava sentado no parapeito com sua lança, possivelmente antes da arquimaga chegar.
Depois de um suspiro aliviado:
-- Sim... Sem sono... – Ela aproximou-se do mesmo e ambos ficaram em silencio por alguns minutos sentindo o vento mexendo em seus cabelos.
-- Mãe difícil, né? – Dizia Noah quebrando o silêncio.
Alice solta um pequeno sorriso.
-- Ela é uma boa mãe, só não admite quando as coisas saem de seu controle...
Noah apenas ouvia.
-- Fui criada desde pequena para herdar os negócios da família... Enquanto meus irmãos aproveitam a vida. – Ela virava os olhos. – Mamãe diz que eles estão a trabalho, mas eles só vão para festas e bebedeiras...

--Vocês trabalham com o que?
Alice batia a mão na testa. – Por Therwin! Eu me esqueci de perguntar sobre as Penas de Teleporte... Nós trabalhamos com venda e compra de animais. Muitos deles são raros. Por isso é fácil conseguir essas coisas...
-- Mas até que deve ser bacana... Digo... Morar com os pais...
Alice virou-se para ele e fitou seu olho machucado.
-- Como você perdeu esse olho?
Noah a olhou surpreso e então foi abrindo a boca para falar, iria contar outra mentira quando Alice disse:
-- A verdade, meio - demônio.
Noah a olhou surpreso.
-- Você sabe?
Ela apenas confirmou com a cabeça.
-- E... Não tem medo?
-- Não, se você for sincero...
Noah a olhava, admirando a coragem e as palavras daquela mulher, levou a mão no olho machucado e suspirou:
-- Para salvar um amigo... – Ele disse. – Perdi esse olho defendendo um amigo contra meu próprio pai...
-- E acha que mentindo vai esquecer isso? – Ela perguntou.
-- Quem sabe colocando mentiras sobre a história eu acabe esquecendo a verdade...
Ele a olhou com seu olho bom, não queria falar sobre aquilo e ela entendeu.
-- Sinto muito... – Disse Alice voltando a olhar o jardim.
-- Tudo bem...
Um som estranho fora ouvido, algo se aproximava vindo das sombras.
Noah pula para o chão e segurando sua inseparável lança se põe em posição de ataque, defendendo Alice.
Das sombras sai Miranda.
-- Eu não durmo. – Disse a boneca.
E os outros dois riram, quebrando qualquer clima ruim.

...
Alice conseguira dormir. Quando acordou estava revigorada. A mansão já estava em festa. Dellyson caminhava animado enquanto empregados corriam para organizar o baile de última hora.
-- Bom dia, papai! – Disse Alice beijando as bochechas do pai que devolveu junto com um alegre latido. – Onde está a mamãe?
-- No jardim, querida... – Dellyson falava enquanto ajeitava uma longa fita para enfeitar uma coluna.
A arquimaga caminhou pela mansão. Noah contava para algumas crianças que havia perdido o olho em uma guerra contra pingüins – mutantes – assassinos na ilha de Darvon. Miranda estava parada com a expressão séria de sempre enquanto as empregadas escolhiam vestidos para ela, brincando de boneca, sem saber que ela realmente era uma.
Alice saiu e caminhou pelo jardim, até que viu a silhueta de sua mãe entre as plantas da estufa.
-- Mãe? – Ela adentrou o local, onde tinham plantas belíssimas, muitas delas raras.
Havia um grande espaço ao centro com o desenho do brasão da família Drineville feito por pedras coloridas quebradas, o símbolo de um leão urrando para os céus em uma colina.

Rose viu a filha e voltou a plantar uma pequena muda.
-- Mãe... Sobre... É... A missão... – Gaguejava Alice. – Eu preciso... De uma ajuda...
Não houve resposta.
-- Não é dinheiro... Não é muita coisa... É só...
-- Você realmente não gosta daqui, não é? – Disse Rose cortando a filha e limpando as mãos em um pequeno pano enquanto se aproximava da mesma. – Sempre dá um jeito de sair daqui...
-- Não é isso mãe... – Cortada mais uma vez.
-- Eu recebi um corvo mágico da Faculdade Mística... Dizendo que você está faltando as aulas...
-- Eu ia explicar...
-- Não quero explicações... Eu devolvi o corvo dizendo que você está aqui, não receberá faltas por isso... Mas fico chateada a saber que você não honra o nome da família...
-- Isso não é verdade... Eu... – Cortada pela terceira vez.
-- Aparece com um noivo qualquer, não quer trabalhar conosco, não quer... – Agora Rose fora cortada.
-- Chega mãe! – Grito seguido de silencio, finalmente conseguira fazer Rose se calar. – Não tenho vergonha de vocês... Amos vocês, amo e honro o nome nobre da família Drineville... – Aproximando-se da mãe e falando docilmente... – Mas eu gosto da magia, eu nasci para isso.
Rose continuava em silencio.
--... É o meu desejo, mãe! – Dizia abaixando a cabeça.
Rose toca no ombro de Alice:
-- Faça as duas coisas... Estude magia, mas volte para casa... – A mulher sorria. – Não desapareça como seus irmãos.
Alice a olhou nos olhos.
-- É minha vida, mãe... Voltarei se meu coração me mandar voltar...
Rose a soltou e suspirou profundamente:
-- Está decidida?
Alice confirmou com a cabeça.
-- Então só posso orar à Hokori para que um dia você volte.
Alice sorriu. – Obrigada!
-- Agora... Do que você precisa?
-- Penas de Teleporte! Precisamos ir para Daekor.
-- E você terá as penas... Volte aqui, à meia-noite enquanto o baile estiver acontecendo e eu as entregarei...
-- Verdade, mãe? Que bom! – Alice abraçou sua mãe e correu para contar para Noah e Miranda que conseguira as penas.
Sua mãe a olhava, sinistramente preocupada.
Continua...

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