sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Três Mundos - Parte 11 - Celebrações


Estella estava cansada daquilo, seu ódio aumentava cada vez mais. Aumentava por imaginar que Francis deitara com outra mulher, aumentava por imaginar que ele negou seu filho, mas aceitara o dessa outra mulher, aumentava ainda mais por lembrar-se que seu único motivo de vida era a vingança, pois tinha vergonha disso.
Alice tentara parar a anja, com sua magia criara uma esfera glacial que despencou dos céus, passando longe de Estella, mas atingindo mais ainda o navio, que neste momento estava quase que completamente destruído.

Estella caíra sobre Noah, segurou-lhe o pescoço e o jogara brutalmente para o segundo andar, onde batera nos barris, quebrando-os e espalhando uma espécie de pó negro para todos os cantos.
Alecius gritava desesperado:
-- Saiam daí! Saiam! Agora!
-- O que houve? – Perguntou Miranda.
-- Aquele é o tesouro que eu estava trazendo para Daekor... – O pirata respondeu. --... Pólvora!
Alice gritava para Noah sair de perto dos barris.

-- O Francis errou ti escolhendo no lugar do meu filho... – Dizia Estella andando para Noah, suas mãos soltavam uma leve fumaça. --... Não importa se você é totalmente demônio... Meu filho é melhor...
As mãos de Estella começam a pegar fogo. Uma imensa bola flamejante se formava, uma esfera maior do que qualquer uma que ela já criara. A esfera começara a corroer o teto, transformando-o em pó.
-- Ele escolheu você... – Ela disse. – A escolha errada. – Preparou-se para jogar a bola.
Alice chegara ao local, o calor da esfera gigante era muito forte, fazendo a mulher suar.
-- Já passou pela sua cabeça... – Disse Noah. – Que eu posso ser o seu filho?
O mundo de Estella parou. E se fosse verdade? Como ela nunca pensara nisso? Seria possível? Francis cuidara de seu filho?
Lágrimas correram o rosto da anja.
Tarde demais. A esfera já havia sido lançada.
Uma imensa explosão.

Os zumbis que rastejavam nas praias de Daekor pararam para ver.
Alecius abraçou-se em Miranda, jogando-se na água. As criaturas marinhas do local fugiram com o som.
Alice também se jogara, não para o mar, mas para cima de Noah, para o meio do fogo. Jogara-se para a morte.
A última coisa que sentira fora o toque do abraço do guerreiro e o fogo pareceu correr ao redor dos dois.
Estella gritou.


...


O céu era diferente do de Daekor. Era limpo, azul e alegre.
Haviam algumas pessoas sentadas em cadeiras enfeitadas e bem alinhadas. Haviam sorrisos sinceros em seus lábios e um som de fundo acusava o que era aquilo.
Um casamento.

Entre uma cortina de folhas, uma bela noiva usando um lindo vestido comprido caminhava entre todos. Era uma noiva linda, impecável. Caminhava com certeza, seu rosto rosado parecia uma pintura de tão bela.
Alice estava feliz.
A arquimaga caminhava para o altar. Usando um terno, com sua eterna postura digna de um guerreiro Noah esperava sua amada ao lado de sua inseparável lança.
Alice finalmente chegara ao altar. Olhara para Noah e ele para ela.
-- Tem certeza? – Ele perguntou.
Ela acenou com a cabeça, confirmando. – E você?
-- Não voltaria para o submundo por nada nessa vida. Meu mundo está aqui agora. -- Disse ele olhando bem nos olhos daquela a sua frente.
Um livro fora aberto na sua frente.

-- Trago as belezas de Clawyn para esse casamento! – Falou Miranda, aquela que realizaria a cerimônia.
Na primeira linha de cadeiras Rose Drineville tinha um pequeno sorriso no rosto, quase imperceptível, Dellyson chorava  numa mescla de felicidade e ciúme da filha. Do lado do casal, Alecius com um olhar fixo para o altar.
--... Pelo poder do deus do amor... Eu vos declaro marido e mulher. – Finalizou Miranda.
Ambos os noivos se entregaram num beijo apaixonado e sabiam naquele momento que viveria juntos para todo sempre.

...
-- Obrigada Miranda! – Dizia Alice ao fim da cerimônia para a amiga.
-- Estou tão feliz por vocês. – Disse a boneca. -- Muito mesmo. – Em seu rosto um grande e belo sorriso. – Já pensaram o que vão fazer da vida agora?
-- Ah! Já sim... Vou terminar minhas aulas atrasadas na Faculdade Mística. – Ela fez uma pausa, olhou para sua mãe ao longe e sorriu. – Depois eu e Noah vamos tomar conta do negócio da família.
Miranda abraçou a amiga. – Que ótimo!
-- E você Miranda? O que vai fazer agora?
Miranda sorriu e disse:
-- Vou virar aventureira, levar o nome de Clawyn pelo mundo. Alecius até vai comigo! – Ela acenou para o pirata que devolveu o sinal.
-- Vai me visitar, não é? – Perguntou a arquimaga.
-- Sempre que puder... – E ambas abraçaram-se novamente.
-- Agora vai pra lá que eu vou jogar o buquê! Não ti preocupa não que eu estou torcendo por ti. – Disse Alice dando uma piscadinha para a amiga.
Dellyson chamou as mulheres e logo se formou um monte que se espremia para pegar o buquê.
Alice jogara, o conjunto de flores voara, passando por mãos desesperadas e caindo perfeitamente nas delicadas mãos de Miranda.
Alecius a olhara e vermelho sorriu desajeitado. A mesma, também vermelha sorriu para ele. De alguma forma sabia que seu criador estava feliz com aquilo. Ela sorriu muito feliz e fitou as flores do buquê em suas mãos.
Tulipas lilases.

...
Alecius se aproximara de Noah. Desejava felicidades e benções.
-- Vocês já são tremendos de uns sortudos. Podem me explicar como foi que escaparam daquela explosão que transformou meu navio em pó...? – Perguntou o sereiano sorrindo.
Noah também riu, não sabia explicar. Naquele momento o fogo não os tocou, mas rodou ao seu redor, numa dança frenética, não tocara nem nele, nem em Alice, que estava em seus braços.

Noah não entendera, nem queria entender... Tinha agora uma esposa maravilhosa, novos amigos e um futuro de alegrias pela frente.
Só isso importava.
...
Longe dali, vendo o horizonte com lágrimas nos olhos estava Estella. Sua pele estava queimada, desde o rosto aos pés.
-- É o mínimo que eu posso fazer... Filho...
As asas da caída se abriam, ela não notou, mas uma de suas penas, uma bem pequenina estava inteira, bonita e limpa.

FIM

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Três Mundos - Parte 10 - Beleza


Primeiro estava molhado, depois escuro e frio.
Miranda estava sozinha e triste, caminhava em um local desconhecido.

-- Estou morta? Mas... Eu não tenho alma, não é?
-- Não e sim... – Soou uma voz distante. Era uma voz conhecida e perfeitamente bela, Miranda sabia quem era.
Era seu criador.
Ao longe um garoto gordo, com o rosto repleto de espinhas e uns óculos ‘fundo - de - garrafa’.
A boneca correu para seu criador, abraçou-o e chorou, chorou e soluçou pelo que pareceu serem horas.
-- Você está morto, não? Por isso está aqui comigo.
-- Não Miranda, nem você, nem seu criador estão mortos.
-- Meu criador? Você fala como se não...
-- Não sou... – Ele responde afastando-a. – Dizem que você sempre verá o deus da beleza na forma mais bela que existe. E o mais belo para você... – Ele sorriu. – É seu criador.
-- Deus? – Ela perguntou pra si mesma, depois seu rosto se tornara triste novamente. – Então eu estou morta mesmo, não é?
O deus levanta o rosto de Miranda e a olha nos olhos. – Não criança... Agora que sua vida vai começar...

Uma luz ilumina o local escuro e Miranda se vê novamente na mesma situação que Layla vira. O quarto de seu criador. Ela via a si mesma, vestida de empregada e seu criador na sua frente.
-- Você é tão perfeita, Miranda! Como eu queria que você fosse real! Só você me entende! Eu daria qualquer coisa... – Dizia seu criador em sua visão.
-- Qualquer coisa? – Dizia uma voz perfeita, linda.
Com o susto, o criador de Miranda a desliga. Mas a verdade Miranda continua vendo o que ocorria.
Aquela voz perfeita soou pelo quarto e penas de pavão cobriram todos os locais.
-- Quem é você? – Perguntou o estudante, ajeitando seus fundos óculos.
-- Deus da beleza... – A voz disse. --... E do amor...
-- Clawyn? – O estudante rodou o corpo procurando o deus que estava naquela sala.
-- Você realmente ama essa boneca, não é? – Soou a voz gloriosa.
O estudante se aproxima da Miranda desligada e a abraça:
-- Sim... A amo muito.
Clawyn sorriu, sabia que aquilo era real.
-- Então façamos um trato! Posso torna - lá real, dar-lhe uma alma. Assim você passaria toda uma eternidade com ela.
-- Como?
-- Ela precisa de uma alma; você tem uma alma...
O estudante olhou aquela boneca desligada.
-- Minha alma?
-- Vocês se tornariam um só... O princípio do amor... O sacrifíco máximo.
O estudante ficou olhando aquela bela boneca e abraçando-a disse:
-- Eu aceito.

...
A visão desaparecera. Miranda se viu na frente de seu criador, que era Clawyn.
-- Eu tenho alma? – Miranda quase gaguejou.
-- A alma de seu amado. O tempo todo ele estava aí... – Clawyn apontou o coração de Miranda.
A boneca colocava a mão no peito.
-- Ele está aqui? – Ela sentia seu criador, a presença quente e viva que estava ali. Um grande sorriso se fez em seus lábios, um sorriso grande, belo e alegre. Assim como as lágrimas que corriam em seu rosto.
-- Você é uma de minhas escolhidas, uma sacerdotisa... Leve o nome do meu amor e da minha beleza ao mundo. – Disse Clawyn e deu um beijo na testa de Miranda.

...
A boneca abria os olhos, sentia a água batendo em seu rosto.
Miranda estava nos braços de Alecius, que nadava velozmente para a superfície.
-- Que bom que acordou, aguente mais um pouco. – Disse Alecius e sua voz saia perfeita na água.
Miranda olhava o pirata, ele não tinha mais pernas, mas sim uma cauda, uma bela cauda.
Alecius era um sereiano.

...
Estella se aproximava de Alice e Noah que estavam caídos.
-- Quem é sua mãe? – Dizia Estella apontando os dedos flamejantes. – Me diga quem é ela assim eu posso matá-la também. Era uma escrava? Uma guerreira? Uma qualquer?
-- Eu... – Noah começava a falar quando Miranda fora jogada por Alecius no deck do navio.
-- Por Clawyn! – Dizia a boneca olhando ao redor.
Alecius subira o navio, usando seus braços. O pirata se assustara quando vira o estado do local. Seus olhos correram desesperados para os barris.
Alice e Noah sorriam quando notavam que sua amiga ainda vivia.
-- Você? – Estela a olhava com ódio.
Um círculo de fogo rodou nos dedos da anja e fora lançado para Miranda, o fogo se aproximava da boneca quando, usando os braços, Alecius se jogara na sua frente, protegendo-a do ataque.
Miranda se assustara, soltara um grito.
-- O que eu faço? – Disse para si mesma, olhando para o mar. Em meio às águas escuras havia uma pena de pavão, ao redor da pena as águas estavam cristalinas.

-- Eu sou uma sacerdotisa agora... – Miranda levantara os olhos. – Clawyn! Ajude-nos!
Três penas de pavão caíram sobre Alice, Noah e Alecius, dando forças e os curando.
Noah levantava-se, Alice ao seu lado também.
Ambos se sentiam fortes. Alice abraçara Noah, alegre. A arquimaga entregava-lhe a lança.
-- Vamos lutar! – Disse Alice, revigorada.
Estella voara para ambos, enquanto Alice usava sua magia para criar grandes pontas de gelo pelas poças de água que estavam no chão.
A anja desviava-se rapidamente enquanto as pontas gélidas cresciam por todos os lados.
-- É o fim! – Ela gritou se jogando sobre os dois.

Continua...

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Três Mundos - Parte 9 - Passados que deixam marcas.


Anjos e demônios não podem se apaixonar. É uma regra. Quando isso acontece alguém tem que ceder, ou o demônio deixa seus poderes e vive uma vida de medo fugindo de seus iguais ou o anjo cai, perdendo suas benções e glórias.
Estella é um anjo caído.
Ela caiu por amor...

...
As penas sujas e amassadas de Estella caiam no chão de madeira do navio.
-- Voltem! Dêem meia-volta!  -- Gritava Alecius puxando cordas para fazer as velas voltar-se contra o vento, a batalha com Noah havia sido interrompida, havia preocupação maior vindo daquele local.
Os piratas se moviam para fazer o navio girar.
No meio da balburdia Miranda olhara para cima, vendo Estella.
-- Você... – A boneca quase rosnava.
Noah e Alice também notaram a presença da mulher.
-- Um anjo? Ela é um anjo? – Falava Alice.
-- Estella! – Gritava Noah com a lança apontada para cima.
A anja descera lentamente para a proa do navio.
-- Eu enviei um Pesadelo! Um Pesadelo! – Dizia Estella. – Mas terei que matá-lo com minhas mãos, sangue de Francis!
A mulher levanta a mão e o chão do navio começa a tremer. Pequenos vulcões começam a brotar do chão, principalmente ao redor de Noah. Os pequenos vulcões começam a derramar lava, corroendo a madeira do navio.

Noah usa a lança para fazer uma espécie de salto e sair da lava que o rodeava.
Alice jogava pontas de gelo em Estella, mas a mesma criava escudos de fogo que derretiam as agulhas, transformando-as em fumaça.
Miranda corre pela lava, machucaria os pés de um humano, mas a boneca não mostrava sentir dor alguma. Jogara-se em Estella, segurando a gola de sua camisa.
-- Cadê a minha carta? Onde está? – Ela gritava.
-- Oras, mas que atrevimento! – Gritava Estella empurrando a boneca.
O navio começava a afundar lentamente por conta dos buracos causados pela lava. Os piratas subiam em botes, tentando fugir.
-- Vocês três! Vamos sair daqui! – Gritava Alecius.
-- Miranda sai daí! – Agora gritava Alice tentando apagar o fogo que começava a aumentar puxando a água do mar com magia.
-- Cadê a carta? – Miranda gritava mais ainda.
-- Você que saber o que diz a carta? – Estella gritava respondendo Miranda. – Seu criador está morto! MORTO!
A boneca paralisou-se na frente da anja. Uma coluna de fogo se formou ao redor de Estella, empurrando Miranda no mar. Seus cabelos que estavam presos numa trança se soltam, se espalhando delicadamente enquanto a boneca afundava no mar.
-- Mor... to? – Ela falou antes de desligar.


...
Noah e Alice correram para a borda e gritando pelo nome de Miranda se preparavam para pular quando Alecius fora mais rápido:
-- Cuidem do monstro que eu salvo sua amiga. Cuidado com meu tesouro que está no andar de baixo. – Ele disse jogando-se no mar escuro.
...
Noah segurava veementemente sua lança apontando-a para Estella, que descia lentamente para o chão queimado e rachado.
-- Como pôde fazer isso com a Miranda? – Gritava Alice.
-- O que você quer comigo? O que eu fiz pra você? – Gritava Noah, que corria para Estella com sua lança pronta para atacá-la.
Alice levantava as mãos e as águas negras que carregavam o navio a obedeciam. As águas levantavam-se, formando pilares enormes ao redor do navio.
A lança perfura o ar, passando entre as penas machucadas e podres das asas de Estella. A mulher joga o corpo para o lado e no mesmo instante uma grande onda feita por Alice cai sobre a anja. Um peso bruto e destruidor que faz o navio balançar violentamente, derrubando caixas deixadas pelos piratas.
O navio tinha o andar de cima furado, queimando e encharcado, mas Noah corria pelas partes ruins do terreno como se elas não existissem, numa velocidade incrível, o guerreiro perfurava o ar tentando atingir Estella.

-- Me explica o que é você! – Noah corria para a anja, enquanto Alice usava sua magia para limpar a água no terreno que ela mesma derramara, ajudando assim Noah.
O homem estava próximo de Estella, pronto para atacá-lo novamente, quando a anja levita, esquivando-se do arco cortante feito pela lâmina da lança.
Estella voa até Alice e suas mãos começam a pegar fogo. A arquimaga usa as águas que ainda estavam em seus pés para fazer uma espécie de escudo, mas o fogo na mão da anja era mais forte, evaporando parte do escudo. Alice tenta fugir correndo para trás, mas o peso do corpo de Estella cai sobre o dela fazendo-a bater em uma parede e desmaiar.
-- Duas a menos. -- Dizia a mulher apontando para o rosto desacordado de Alice. Os dedos da anja fulminavam prontos para queimar a arquimaga.
Noah corria para ambas. Na corrida, passara sua lança numa poça de água, arranhando o chão até chegar a Estella. Com a lança batera na mão da anja, fazendo a bola de fogo que juntava entre os dedos voar longe para o céu.
-- Por que você odeia tanto o meu pai? – Gritava Noah.
Os olhos de Estella pareciam pegar fogo. Quando lançou outra esfera flamejante em Noah, que se esquivou, quase queimando seu braço e uma mecha de seu cabelo. A esfera rachou o chão, quebrando-o e mostrando a parte de baixo do navio onde havia alguns barris bem colocados em um canto, amarrados em grossas cordas.
-- Eu perdi tudo pelo Francis! – Gritava Estella. – Há tempos eu senti aquilo que chamam de amor. – Ela virava os olhos. – Bah! Sentimento ultraje. No momento era bom... Sentimentos de paz, alegria, arrepios...
Noah olhou para Alice, aquilo que ele sentira era amor?
Seu rosto corava e um sorriso se formava sem sua vontade.
-- Mas havia aquele prazer por guerra, aquela ‘honra’ em ser general. – Continuou Estella, balançando as asas, subindo um pouco e derrubando penas mortas. – Ele me deixou... Mas eu era cega. Cega e tola.-- Ela olhava para Noah com olhos de ódio. – Então por ele, traí os meus iguais... – A mulher quase sorria. – Entende? – Agora gritava. – Eu caí! Tornei-me isso que eu sou hoje por causa dele. – Então ela se acalmou. – Mas foi bom, fui até o submundo de Barakon, aprendi a mexer com magia negra, me tornei uma guerreira das sombras, quando ele estava ‘feliz’ ele me usava e isso já era o suficiente para me deixar feliz também.

Estella desceu novamente, tocando os pés no chão.
Alice abria os olhos, estava viva embora muito fraca.
-- Até que fiquei grávida...-- Falou Estella.
Noah a olhou, surpreso.

-- Eu tive um filho dele, alguém que se tornaria um guerreiro de Barakon como nós. – Ela fechava os olhos e suspirava, quando os abriram eles estavam em chamas. Seus braços se tornavam tentáculos flamejantes. – Ele disse que não queria um filho de uma anja, que se um dia fosse ter um filho seria de uma poderosa abissal como ele! – Os tentáculos corriam pelo chão rasgando a madeira com papel. – Agora veja você! Provavelmente ele encontrou uma abissal e procriou. – Ela falava com nojo. O tentáculo passou por Noah que tentou esquivar, mas teve sua lança jogada longe, perto de onde estava Alice, que segurou a arma antes de cair no mar.
-- E quanto a seu filho? – Perguntou Noah, tomando ar.
-- Odiei tanto ele que o deixei no submundo para morrer! Francis deve tê-lo encontrando no local onde deixei, deve tê-lo dado às escravas e o tornado um escravo também, você com certeza deve conhecê-lo, seu pai não perderia a chance de sempre humilhar o filho de uma anja. – Ela virava os olhos e se aproximava de Noah. – Agora não importa, Francis está morto, meu filho deve estar morto e você deve morrer!
Os tentáculos flamejantes foram jogados em Noah, jogando-o longe e fazendo uma grande queimadura em seu peito.
-- Mas... Eu... Sou filho único... – Disse Noah com poucas forças.

Continua...

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Três Mundos - Parte 8 - Águas por todos os lados.


A vida de Noah nunca foi fácil.
Nascido no reino de Barakon, tendo sangue de demônio correndo nas veias, era obrigado a ser cruel e sádico.
Não conseguia ser.
Gostava de ler. Sempre lera livros que o levava a outros lugares, outros mundos. Nunca realmente conhecera esses mundos, às vezes nem mesmo acreditava que fossem reais.
Havia uma biblioteca a muito esquecida, fora lá que a paixão de Noah por livros nascera e fora lá que conhecera Robin, o orc.
Robin era uma contradição em sua raça. Não gostava de violência, era um sábio, não um guerreiro. Por causa disso não durou muito tempo entre os seus iguais. Robin fora morto pela sua própria aldeia em Korlama, a ilha dos orcs. Sua alma mandada aleatoriamente para o reino de Barakon.
Robin havia encontrado essa biblioteca, tinha tomado ela para si. Até que encontrara Noah, ambos sofriam da mesma forma e isso fez nascer uma amizade.

...
Francis era líder de um exército no reino de Barakon, conquistador de território, opressor dos fracos e inocentes. Ouve boatos que capturara uma bela mulher, fazendo-a escrava e logo após tendo um filho.
Francis imaginava que aquele garoto seria o novo líder de seu exército, que ele seria um demônio tão poderoso e conhecido como seu pai jamais fora.
Mas o seu filho só se interessava por livros e paz.
Francis odiava paz, odiava livros, odiava seu filho, mas acima de tudo, odiava Robin, o orc que levara seu filho a esse mundo.
Certa vez o general – demônio entrou na biblioteca e em meio à chamas destruiu todo aquele local.
Francis lutara com Robin, mas o orc era realmente um sábio, não um guerreiro. Assim que Noah chegou ao local pode ver a espada de seu pai cortando o melhor amigo ao meio.
Noah entrou em frenesi.
Já era um mestre na lança nessa época. Apenas usava a lança para defender, mas naquele dia usara para matar.
Noah perdeu um olho em batalha, uma marca que levaria para toda vida.
Francis morreu.
Orgulhoso de um filho guerreiro.

...
O vento era salgado. O som do mar jogando suas ondas contra a madeira do grande navio era ouvido, enquanto havia lâminas de sabres nos pescoços de Miranda, Noah e Alice.
Estavam em um navio.
Um navio pirata.
-- Eu disse! Eu disse que não era uma boa idéia vir para Daekor. – Gritava um jovem magro e amarelado, trajando uma roupa listrada. O garoto segurava uma adaga, apontando no rosto de Noah. Sua mão tremia enquanto olhava bem no olho do guerreiro.
Por azar os outros tripulantes daquele navio não eram como o jovem magro. Eram homens fortes e confiantes com armas boas – provavelmente roubadas – em mãos.

-- Pensei que íamos para Daekor. – Falava Noah tentando se afastar da ponta de um sabre.
-- Estamos indo para Daekor, não ouviu o magrela falar? – Dizia Alice também se defendendo de um sabre.
Noah diz:
-- Ah! Entendi a piada... Item mágico com senso de humor...
Miranda olhava seriamente para os piratas.
Ouviu-se um caminhar, os piratas abriram espaço para aquele que se aproximava.
Era Alecius, o capitão. Um homem alto e bonito para um pirata. Seu cabelo liso caia pelas costas de um lilás bonito, tinha um ar elegante, embora mostrasse que conduzia seus homens à mão-de-ferro.
-- Capitão! Capitão! – O jovem amarelado corria para o capitão, puxando seu terno e aparentando chorar. – Capitão! Vamos sair daqui pelo amor de Nyar! Daekor é assombrado, eu falei, não falei?
Alecius colocava a mão na testa e suspirava:
-- Herman! – Foi só o que o capitão disse. O jovem se escondeu atrás do capitão enquanto este caminhava até os três inquilinos.
Havia um sabre na cintura de Alecius que brilhava a luz do sol, sobre o sabre, a mão do capitão.
-- Quem são vocês? – Perguntava Alecius.
-- Olha... – Noah começou a se levantar, mas fora empurrado por um dos grandes tripulantes, fazendo-o cair sentado. --... Caímos aqui sem querer, ta bom? Não queremos mexer com ninguém, apenas ir para Daekor.
-- Daekor? – Perguntou o capitão. – Estamos mesmo indo para lá... Lugar cheio de zumbis... Bom para guardar tesouros, e temos uma carga bem grande de algo bem precioso aqui... – Alecius estendeu a mão para Alice e para Miranda, levantando-as. – Mas só vão ficar com uma condição...
Assim que as garotas estavam em pé, Alecius saca seu sabre e aponta para Noah.
-- Me desarme! Assim poderá ficar no navio com suas amiguinhas.
Noah se apóia em sua lança e se levanta com um sorriso no rosto.
-- Quer saber? Preciso mesmo de uma ação! – O guerreiro aponta a lança para o capitão.
Os tripulantes se afastam. Enquanto alguns param para assistir, outros simplesmente voltam a trabalhar dizendo que a vitória já era de Alecius.
Miranda não se importa com a batalha à sua frente, apenas olhava o mar, admirando a beleza do horizonte enquanto desejava a companhia de seu criador.

Alice assistia aquilo nervosa, olhava o mar e imaginava o que os piratas fariam com eles se Noah perdesse.
Noah corria por aquele chão de madeira com a lança apontada para o capitão. Alecius usava o sabre para mudar a direção da ponta da lança, enquanto se esquivava.
O capitão dava uma espécie de mortal para trás enquanto Noah estocava com a lança em vários pontos diferentes, com Alecius sempre se esquivando.
Os tripulantes que assistiam iam à loucura, gritavam histéricos a cada esquivada do capitão, o que deixava Noah nervoso.
Alice gritava pelo amigo, mas sua voz não era nada perto dos urros dos piratas.

Alecius fazia um arco horizontal no ar enquanto Noah jogava seu corpo para trás. A lâmina quase toca o nariz do guerreiro, que num rápido movimento passa a lança no chão quase atingindo os pés de Alecius que pulou na borda do navio.
-- Muito bom para um guerreiro seco! – Dizia o capitão. Pegando uma corda Alecius se joga batendo com as botas no peito de Noah.
Alice grita enquanto Miranda ainda observava o mar, perdida em pensamentos.
Noah joga seu corpo para cima, levantando-se e rapidamente estocando com a lança que iria ao ombro do capitão se o mesmo não a parasse com o sabre.
Controlando o navio estava Herman, que por medo, não queria ficar perto da pequena batalha.
O garoto magrelo se esforçava para controlar o timão do navio quando grita:
-- Capitão! Estamos entrando nos mares de Daekor!
O continente espiritual já era visto. Daekor tem dois lados que algumas pessoas chamam de ‘céu’ e ‘inferno’. Pela visão, não estavam no 'céu'.
O céu já escurecia, nuvens negras derramavam raios fortes e vários vultos eram vistos ao longe correndo.
-- Ca... Capitão! Ainda podemos voltar... – Gaguejava Herman, suas pernas tremiam. – Vamos para Lafaza, ouvi dizer que os piratas estão ganhando poder no continente...
-- Herman! – Gritou Alecius, depois se voltando para o continente. – Por Hokori, o local é pior do que eu imaginava...
Miranda olhava o continente com uma dor no coração, havia acabado aquela beleza, o mar era agora negro e às vezes podiam-se ver criaturas marinhas gigantes passando calmamente por baixo do navio.
A área de terra era ainda pior. A praia estava infestada por zumbis e corpos humanos, ao longe o baralho da guerra parecia ensurdecedor.

-- Que horror! – Dizia Miranda se aproximando de Noah junto a Alice.
-- Precisamos sair daqui! – Dizia Alice.
Noah olhava o local em meio ao caos e dava um sorriso baixo.
-- Não chega nem perto do submundo de Barakon... – Falava para si mesmo.
O navio foi um pouco para frente.
Entrara nas águas de Daekor.
...
Muito longe dali, em sua torre, sentada no escuro estava Estella. A mulher estava suja e desarrumada, seus olhos, vermelhos de lágrimas e os pés sempre sujos de sangue. A celestial caída sussurrava o nome de Francis, enquanto se deitava em posição fetal.
Assim que o navio de Alecius entrara nas águas de Daekor, Estella sentira algo, parando de chorar, levantando-se.
-- Ele está vivo? – Ela se aproxima do buraco feito outrora em sua parede e fita o mar de Daekor ao longe.
-- Ele está vivo! –
Suas asas rasgadas saem de suas costas, cobrindo-a e a teleportando novamente.
Continua...

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Pergaminho - Porque nem todas as notícias vem das músicas dos bardos!

Pergaminho de notícias

Serpente de ferro
Em toda Gensõ estão sendo relatados casos de pessoas que vêem uma gigantesca serpente de ferro sobrevoando os céus. A pessoas estão assustadas com o monstro metálico, mas os moradores da ilha de Tecnus sabem a realidade por trás disso.
A grande serpente de ferro é na verdade um trem mágico criado pela empresa Denkõ Corp. para levar e trazer os moradores da grande ilha de ferro para outros continentes e assim espalhar ainda mais a Guerra do Ferro Frio. 
O trem realmente tem um formato de serpente, feito exatamente para as pessoas imaginarem que este seja apenas mais um dos monstros esquisitos de Gensõ.
O motorista chamado de Marcus Silvian é um homem que os outros consideram louco, dizem que ele fala coisas sobre uma outra dimensão de onde ele diz ter vindo, um local chamado Terra.


Os despertos
Um grupo, em Solasel, está convocando novos integrantes para ajudá-los numa batalha contra Changelings, criaturas que se alimentam dos sonhos. O grupo que carrega a alcunha de 'Os despertos' está crescendo cada vez mais, liderado pelo ex-lenhador Tsubasa Maeda um dos poucos sobreviventes dessa ameaça, que cresce cada vez mais no continente.



Amazonas
Em Drimlaê, depois da notícia da rainha Sarah adentrar no exército do continente que será enviado para Daekor, as guerreiras da Floresta das Amazonas pareceram estar mais motivadas para entrar em batalhas, algumas pequenas aldeias foram saqueadas, suas mulheres transformadas em guerreiras e seus homens em escravos (ou coisas piores). Dizem alguns boatos que a líder das Amazonas, Layllian Hellen, está se preparando para sequestrar Sarah antes de sua ida para Daekor, os motivos desse possível sequestro ainda são desconhecidos.

domingo, 7 de outubro de 2012

Três Mundos - Parte 7 - Liberdade


O leão que era Dellyson urrou assustadoramente e correu em direção à Alice.
A arquimaga apontara com a varinha para atacar-lhe, mas a sua pata, do tamanho da cabeça da mulher, a empurrara, derrubando-a sobre caixas de estrume, fazendo-a retorcer o rosto de enjoou por conta do cheiro.

O leão corria para cima da arquimaga novamente, quando a mesma joga estrume no rosto do felino, atingindo seu olho. O animal para e com a pata tenta limpar a sujeira.
Rose estava apenas no mesmo local, parada, observando.
Alice corre até a ave.
O pássaro ficara parado, a arquimaga a centímetros dele.
-- Fácil! – Disse Alice.
Assim que quase o tocara, o pássaro se torna apenas brilho amarelado. Aparecendo no lado oposto de onde estava.
-- Teleporte? – Gritava Alice.
-- Pensei que isso era óbvio, meu amor! – Dizia Rose.
O leão corria novamente para Alice, assim que estava próxima ao animal, a arquimaga pega a cadeira de balanço e a lança, atingindo o rosto do leão, que urra quando a cadeira se quebra contra sua cara.
--Desculpa papai... – Dizia a Mística com a expressão de piedade. – Para que isso, mãe? – Gritava Alice.
-- Tradição Querida... – Respondeu sua mãe. – O Teste de Liberdade é algo de família... Seus irmãos passaram, por isso eles viajam, por isso eles fazem o que querem... E nós, eu e seu pai, ainda os amamos.
-- Meus irmãos conseguiram a liberdade assim? – Perguntava Alice para si mesma. – Eu não sabia...
-- Sua avó também fez comigo esse teste. – Dizia Rose com uma triste expressão. --... Eu não passei...
Alice parara e olhara sua mãe, perplexa.
Assim que se desconcentrou, o grande leão atingira-lhe com a pata, jogando-a para cima.
...
Rose era uma jovem bonita e radiante, até que chegou o dia do seu Teste de Liberdade.
Uma senhora de roupas quentes, avermelhadas sentava-se em uma pequena canoa em um rio calmo e limpo. Em seus lábios um charuto caro pela metade fazia fumaça ao redor da sua cabeça enquanto às vezes círculos de fumaça quase perfeitos era cuspidos por ela.

-- Vamos lá, Rose... – Soltando fumaça. – Não tenho o dia todo...
A mulher na canoa era Mary Drineville, matriarca da família e mãe de Rose. A canoa estava no centro do rio, parada. Rose em um das margens olhava sua mãe. Há alguns metros à esquerda de Mary, saindo das águas havia um redemoinho, no meio dele, por causa da transparência das águas podia-se ver um garoto acorrentado no ar, às águas não o tocava, do outro lado da canoa um redemoinho igual, no seu centro, flutuando, um bilhete.
-- Vou repetir... – Falou Mary. – Você pode salvar o seu amiguinho. – Apontando para o garoto. – Ou pegar o bilhete que valerá sua liberdade. – Apontando para o lado direito.
Rose olhava sua mãe e com um pequeno rosnado pula na água.
-- Dellyson! – Ela grita antes de entrar por inteira nas águas.

...
Alice caíra no chão. O Leão, que era Dellyson urrava para o alto, seu semblante era majestoso e assustador, o mesmo poder que emanava do brasão da família.
Noah e Miranda procuravam Alice pelo jardim, o som do baile era alto, até que se ouviu o urro do leão. Os dois logo correram para a estufa, assim que abriram a porta viram uma Alice suja e machucada, seu lábio sangrava e algumas partes do seu corpo estavam roxas.
-- Miranda ajuda ela! – Foi só o que Noah gritou e a boneca levantou as mãos prontas para curar a arquimaga.
-- Não! – Gritou Alice se levantando com dificuldade. -- Esse é MEU teste! EU devo vencê-lo sozinha.
Rose acenava a cabeça, orgulhosa.
Alice correu para tocar o pássaro, o mesmo desaparecendo e aparecendo em outros lugares. Corria atrás da ave, desviando dos ataques que o leão fazia com as patas. Dellyson que era o leão nunca atacava com as garras, apenas com a almofada da pata.

Passavam-se alguns minutos, o pássaro se teleportava todas as vezes que Alice estava próxima. A mulher já estava cansando, parecia inútil.
Noah e Miranda, ainda na porta, apenas olhavam preocupados, sem poder agir.
-- Você pode desistir querida... – Disse Rose, sentando-se em uma mesa de madeira com várias mudas e flores, que pareciam dormir. – Eu não passei o teste e fui muito feliz cuidando dos negócios da família.
Alice corria, tentando, inutilmente, pegar a ave, que ia para todos os cantos, desde o lado de Rose até o ombro de Miranda.
-- Mesmo que eu fique aqui... – Gritava Alice tentando tomar ar, enquanto jogava-se no chão, desviando de Dellyson que quase voava por cima dela. --... Eu só sairei dessa estufa... – Tomando mais ar. --... Quando eu tiver minha liberdade!
-- Ah! Querida... Você não conseguiria viver sozinha... – Disse Rose. – Fugiu da Faculdade Mística, está noiva de um plebeu sem olho... – Ela sorria. – Não tem responsabilidade nem com seus horários... Esse seu atraso de 20 minutos foi o suficiente para eu regar todas as plantas daqui.
-- Regar todas as plantas? – Sussurrou Alice olhando ao redor. Observando bem todas as plantas podia-se ver que muitas ainda estavam molhadas.
Alice correu do leão, mas foi do lado oposto à ave, correndo em direção a porta.
-- Miranda! Noah! Saiam daqui e fechem a porta!
-- O que? – Gritou Noah.
-- Só façam...!
Noah e Miranda assim fizeram cada um fechando uma porta.
Alice parou, o leão vindo em sua direção. Apontara a varinha para o alto.
Os vasos começaram a tremer. Rose se assustou se afastando das plantas. O leão e a ave de teleporte também olhavam assustados e logo todo local estava coberto por água e plantas secas.
Alice sentia uma fadiga mental. Com sua magia de água, a arquimaga arrancou toda vida das plantas ao seu redor, matando-as. A mulher era a única no chão os outros flutuavam dentro da grande esfera de água.

-- Agora! –
Toda esfera começa a congelar, prendendo Rose, Dellyson e a ave dentro do gelo.
A ave ainda tenta se teleportar quando a esfera congela, mas o gelo cobre seu corpo deixando a cabeça para fora.
Alice se aproxima da esfera e toca levemente a cabeça da ave que tenta inutilmente ainda tentar se livrar.
-- Está vendo, mamãe? – Alice sorriu. – Passei no teste.-- E cansada logo desmaia.
...
Sentados em uma sala, ao redor de uma pequena mesa onde havia uma pequena caixa rosada, estavam todos. Noah, Alice e Miranda de um lado, Rose e Dellyson de frente. Rose fazia um pequeno carinho na cabeça de Dellyson, que agora era apenas um simpático homem.

-- Mãe... – Começou Alice quebrando o silêncio.
Rose apenas levantou a mão que estava livre, fazendo a filha calar-se.
-- Você venceu no Teste da Liberdade... Tem o direito de fazer o que quiser... – Um pequeno sorriso triste se formou no rosto de Rose que é sempre sério, depois voltando a sua forma. – Uma pena que não haverá ninguém para cuidar dos negócios da família quando eu envelhecer.
-- Mãe... Eu... – Alice começou a falar por se sentir mal, realmente ninguém cuidaria dos negócios. Quando fora cortada pela mãe.
Rose empurra a caixa da mesa para frente dos três. – Penas de Teleporte! Uma para cada... – Rose abria a caixa, mostrando as penas.
Miranda e Noah pegam uma cada. Alice se aproxima para pegar sua a pena. Sua mãe a olhava.
-- Obrigada, mãe! – Dizia Alice.
Assim as três penas começam a brilhar, cobrindo o corpo de cada um, que logo desaparecem.
O sorriso de Rose era agora grande e satisfeito.
-- Sabe Dellyson... – Ela fazia carinho na cabeça do esposo. --... Eu me orgulho tanto dela...
Continua...

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Três Mundos - Parte 6 - A Dança do Fim do Dia


O sol já havia se posto e os preparativos para o baile estavam feitos. Era fácil organizar essas coisas rápidas, quando se tinha dinheiro. E a família Drineville tinha muito dinheiro.
Os convidados chegavam, fossem a pés por morar perto, fossem de carruagens por serem de cidades diferentes. 

Os irmãos de Alice já se encontravam no salão, bebendo, paquerando cada garota que passava e fugindo de maridos zangados pelos galanteios com suas esposas.
A família Drineville era uma família festiva e alegre, muito querida em Enemus, por isso, mesmo com convites de última hora o baile não teve uma falta, e aquele seria o assunto durante algumas semanas.
Dellyson, usando trajes formais caminhava entre os convidados, conversando alegremente com cada um. Rose usava um vestido comprido e verde-musgo, transpirava seriedade mesmo num clima festivo.
Noah estava no meio do salão, comia tudo que os serviçais traziam em suas bandejas. Negava-se a soltar sua lança e partes de sua armadura ainda cobriam seu corpo, mas usava trajes formais também. Roupas de um príncipe, modos de um guerreiro.
A música tocava alegre e as horas passavam. Fora quando o som parara e as luzes voltaram-se para a grande escadaria no meio do salão.

Alice caminhara descendo as escadas, logo atrás dela, Miranda.
A arquimaga usava um longo vestido, e talvez fosse pelo costume, mas o azul caía-lhe maravilhosamente bem, seus cabelos amarrados num coque alto e formal, onde se podia ainda ver sua mecha roxa. E jóias enfeitavam-lhe a pele.
Miranda vinha simples, um vestido curto e dourado, seus os cabelos numa longa trança enfeitada por presilhas em formado de borboleta. Mais simples, mas nem por isso menos bonita.
Noah olhava para Alice, era uma elegância tamanha que o surpreendia. Sentia um calor.
-- Palmas para minha filha que viera fazer uma visita e é o motivo dessa festa! – Gritou Dellyson e ouviu-se um oceano de palmas sincronizadas. – E ao seu noivo! – O neko levantou o braço do guerreiro, havendo mais palmas.
Noah sentia-se envergonhado, mas estranhamente bem.
Alice aproximara do homem. – Perdão, Noah! Isso não vai demorar...
-- Não! Não! Tudo bem! – Ele falava nervoso.
-- Agora vamos à Dança do Fim do Dia! – Gritava Dellyson.
A Dança do Fim do Dia era um ritual dentro da família Drineville, eles acreditavam que quando se havia festas, deviam trocar de dia com dança, então a dança começava às 23:50 e acabava 00:10, no dia seguinte.
Miranda caminhava para sentar-se. Assim que se senta, homens começam a lhe chamar para dançar. Jovens e velhos, todos implorando por uma dança com a boneca. Todos os pedidos negados. Sua mente sempre no seu criador.
Os bardos começavam a tocar seus instrumentos e logo todos se juntaram ao centro do salão onde ficavam sob o brasão da família que ficava desenhado no teto enfeitado por belos lustres, que refletiam o chão quadriculado em preto e branco abaixo.

Os casais se juntavam um a um, rodeando Alice e Noah.
-- Eu vou ter que dançar? – Ele a olhava.
Envergonhada ela acena com a cabeça.
-- Isso tinha no meu contrato?
Ela aproximou em silencio.
-- Eu não sei dançar... – Noah disse nervoso.
-- Só se mexa...
Ela o tocou, juntando seus corpos. Toda pele de Noah se arrepiou, uma sensação diferente, boa, divina. Quase soltou sua Lança, estava quase flutuando com o toque da mulher, nunca sentira isso, queria simplesmente abraçar Alice.
O meio-demônio não sabia, mas a garota sentia a mesma coisa, como se ambos se completassem naquela dança.

...
A dança acontecia, era uma música doce e tranqüila.
Dellyson dançava sozinho, o relógio estava correndo e após olhar os ponteiros quase no fim do dia, Rose sai da sala.

Para Noah, era como se nunca tivesse existido o submundo, embora ainda ouvisse os gritos de dor ao longe. Alice ficava vermelha e por um momento esqueceu todos os seus problemas.
Homens brigavam para fazer Miranda dançar, mas a boneca apenas ficava sentada, olhando para o seu casal de amigos dançando, quando sua boca formou um pequeno sorriso.
Ao ver o sorriso, os homens brigavam mais. Queriam a mulher para si. Nenhum deles nunca a teria.
O relógio fez o som de meia-noite. Alice sabia que devia ir, mas queria ficar ali mais um pouco.
A dança passou, deu 00:05 e a mulher continuava ali, em passos lentos ao som da música.
-- Preciso ir! Minha mãe está esperando...
Noah fez um muxoxo e ela continuou ali por um tempo.
Foi quando olhou o relógio:
00:20.
Não falou nada, Alice apenas saiu correndo, a dança ao seu redor continuava.
Noah a seguiu, Miranda empurrou os presentes que já estavam na sua frente e correu também, deixando para trás suspiros apaixonados e corações quebrados.

...
Alice abrira a porta da estufa, o local marcado pela sua mãe. Estava escuro, mas podia-se ver a silhueta de algo no meio da sala. Alice acendera lampiões e tochas, iluminando o local. Rose Drineville estava ao centro, sentada de pernas cruzadas numa cadeira de balanço, em seu braço uma ave azul de penas bonitas e brilhantes.

-- Está atrasada... Vinte minutos... – Disse Rose sem precisar de um relógio.
-- Perdão mãe... Eu estava na Dança do Fim do Dia.
Rose levantou-se e disse:
-- Não importa mais... Você realmente quer as Penas de Teleporte, não quer? – Ela passava os dedos no rabo penoso da ave.
-- Ah! Sim... – Ela sorria.
-- E eu vou lhe dar as penas. – Falava Rose quando a ave voou, pousando na cadeira, que balançava. 
--... Mas terá que me enfrentar...
Um círculo se formava no chão à frente de Rose no meio do brasão desenhado. Do círculo de luminescência verde algo saia, era Dellyson.

-- Papai? – Assustava-se Alice.
-- Sim... Seu pai... – Riu Rose. – Meu familiar...
Rose era uma invocadora, uma espécie de mística que usa magias de invocação de monstros.
-- Perdão querida... – Disse Dellyson com um olhar triste.
-- O objetivo, Alice... – Disse Rose. --... É pegar a Ave de Teleporte, se você conseguir... Poderá fazer o que quiser e não falarei mais nada, se não conseguir, ficará aqui conosco e cuidará dos negócios da família.
Alice suspirou e olhou para seus pais.
-- Eu aceito! – Disse a arquimaga
-- Pode não parecer, meu bem... – Disse Rose levantando a mão. --... Mas mamãe se orgulha muito de você.
O corpo de Dellyson parecia borbulhar. Como se seus ossos crescessem. Alice tapava os olhos para não ver aquela cena, quando a pele de seu pai se rasga e o homem de baixa estatura se torna um grande leão. Um felino de juba dourada, com o triplo do tamanho de um leão normal. O leão que é Dellyson urra monstruosamente para o alto, fazendo o chão tremer.
Alice pega sua varinha que estava amarrada na perna. 
Estava pronta para o desafio.

Continua...

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Três Mundos - Parte 5 - Problemas familiares



-- Ele é meu noivo! – Apontando para Noah.
Houve silêncio na mesa. Noah com a boca suja de comida olhava perplexo para Alice, enquanto Miranda não entendia nada.
-- Ele? – Perguntou Rose, agora olhando para a filha.
Alice respirou e tomou postura. – Exatamente! Ele é meu noivo!
Rose também se levantou. – Quem é ele? De que família ele é? É nobre? – Ela olhou para o guerreiro. – Ele nem tem um olho. Onde você perdeu esse olho?
-- Lutando... – Ele responde. – Lutando com trolls em um pântano.
Alice virou-se para ele sem entender. Não havia perdido o olho para dragões de gelo?
-- Então isso é maravilhoso! – Gritou Dellyson também se levantando. – Precisamos de uma comemoração... Um baile... Amanhã! Amanhã teremos um baile! – E saiu da mesa, comunicando seus criados sobre o baile.
Rose fitou sua filha, com um olhar sério e frio, então saiu da mesa também, em silêncio.
Alice sentou novamente, relaxando o corpo na cadeira, enquanto massageava suas têmporas.
-- O que? Como assim? Quando? Onde? – Gaguejava Noah com um pedaço de frango em mãos.
-- Desculpe Noah... – Dizia Alice, envergonhada.
-- Sempre achei vocês um bonito casal. – Dizia Miranda, sua expressão era séria, mas seus olhos pareciam sorrir.
Os dois a olhavam em negação.

...
Ficara tarde. A madrugada na mansão Drineville era silenciosa e fria. O vento entrava pelas janelas e ecoava pelos largos corredores, cantando enquanto apagava algumas velas usadas para iluminar partes do castelo em candelabros de ouro.

Alice andava por meio a um desses corredores, usava uma camisola rosada que escondia as curvas de seu corpo, embora seus seios ainda fossem notáveis.
Tinha ido para seu quarto, estava com saudade do local onde dormira toda infância. E o local continuava idêntico, mas não estava com sono.
Fora até a cozinha, comeu um pão com um copo de leite e depois caminhou para um parapeito no segundo andar. A arquimaga observava o jardim da frente, era mais bonito ainda a noite com vários vaga-lumes o enfeitando. Ao lado, um pouco distante vira a estufa de sua mãe, o local onde havia brincado muito quando nova. Soltou um suspiro e apoiou-se com os cotovelos na pedra fria que era o parapeito.
-- Sem sono? – Soou a voz de Noah, assustando a mulher, que deu um pequeno pulo. O homem estava sentado no parapeito com sua lança, possivelmente antes da arquimaga chegar.
Depois de um suspiro aliviado:
-- Sim... Sem sono... – Ela aproximou-se do mesmo e ambos ficaram em silencio por alguns minutos sentindo o vento mexendo em seus cabelos.
-- Mãe difícil, né? – Dizia Noah quebrando o silêncio.
Alice solta um pequeno sorriso.
-- Ela é uma boa mãe, só não admite quando as coisas saem de seu controle...
Noah apenas ouvia.
-- Fui criada desde pequena para herdar os negócios da família... Enquanto meus irmãos aproveitam a vida. – Ela virava os olhos. – Mamãe diz que eles estão a trabalho, mas eles só vão para festas e bebedeiras...

--Vocês trabalham com o que?
Alice batia a mão na testa. – Por Therwin! Eu me esqueci de perguntar sobre as Penas de Teleporte... Nós trabalhamos com venda e compra de animais. Muitos deles são raros. Por isso é fácil conseguir essas coisas...
-- Mas até que deve ser bacana... Digo... Morar com os pais...
Alice virou-se para ele e fitou seu olho machucado.
-- Como você perdeu esse olho?
Noah a olhou surpreso e então foi abrindo a boca para falar, iria contar outra mentira quando Alice disse:
-- A verdade, meio - demônio.
Noah a olhou surpreso.
-- Você sabe?
Ela apenas confirmou com a cabeça.
-- E... Não tem medo?
-- Não, se você for sincero...
Noah a olhava, admirando a coragem e as palavras daquela mulher, levou a mão no olho machucado e suspirou:
-- Para salvar um amigo... – Ele disse. – Perdi esse olho defendendo um amigo contra meu próprio pai...
-- E acha que mentindo vai esquecer isso? – Ela perguntou.
-- Quem sabe colocando mentiras sobre a história eu acabe esquecendo a verdade...
Ele a olhou com seu olho bom, não queria falar sobre aquilo e ela entendeu.
-- Sinto muito... – Disse Alice voltando a olhar o jardim.
-- Tudo bem...
Um som estranho fora ouvido, algo se aproximava vindo das sombras.
Noah pula para o chão e segurando sua inseparável lança se põe em posição de ataque, defendendo Alice.
Das sombras sai Miranda.
-- Eu não durmo. – Disse a boneca.
E os outros dois riram, quebrando qualquer clima ruim.

...
Alice conseguira dormir. Quando acordou estava revigorada. A mansão já estava em festa. Dellyson caminhava animado enquanto empregados corriam para organizar o baile de última hora.
-- Bom dia, papai! – Disse Alice beijando as bochechas do pai que devolveu junto com um alegre latido. – Onde está a mamãe?
-- No jardim, querida... – Dellyson falava enquanto ajeitava uma longa fita para enfeitar uma coluna.
A arquimaga caminhou pela mansão. Noah contava para algumas crianças que havia perdido o olho em uma guerra contra pingüins – mutantes – assassinos na ilha de Darvon. Miranda estava parada com a expressão séria de sempre enquanto as empregadas escolhiam vestidos para ela, brincando de boneca, sem saber que ela realmente era uma.
Alice saiu e caminhou pelo jardim, até que viu a silhueta de sua mãe entre as plantas da estufa.
-- Mãe? – Ela adentrou o local, onde tinham plantas belíssimas, muitas delas raras.
Havia um grande espaço ao centro com o desenho do brasão da família Drineville feito por pedras coloridas quebradas, o símbolo de um leão urrando para os céus em uma colina.

Rose viu a filha e voltou a plantar uma pequena muda.
-- Mãe... Sobre... É... A missão... – Gaguejava Alice. – Eu preciso... De uma ajuda...
Não houve resposta.
-- Não é dinheiro... Não é muita coisa... É só...
-- Você realmente não gosta daqui, não é? – Disse Rose cortando a filha e limpando as mãos em um pequeno pano enquanto se aproximava da mesma. – Sempre dá um jeito de sair daqui...
-- Não é isso mãe... – Cortada mais uma vez.
-- Eu recebi um corvo mágico da Faculdade Mística... Dizendo que você está faltando as aulas...
-- Eu ia explicar...
-- Não quero explicações... Eu devolvi o corvo dizendo que você está aqui, não receberá faltas por isso... Mas fico chateada a saber que você não honra o nome da família...
-- Isso não é verdade... Eu... – Cortada pela terceira vez.
-- Aparece com um noivo qualquer, não quer trabalhar conosco, não quer... – Agora Rose fora cortada.
-- Chega mãe! – Grito seguido de silencio, finalmente conseguira fazer Rose se calar. – Não tenho vergonha de vocês... Amos vocês, amo e honro o nome nobre da família Drineville... – Aproximando-se da mãe e falando docilmente... – Mas eu gosto da magia, eu nasci para isso.
Rose continuava em silencio.
--... É o meu desejo, mãe! – Dizia abaixando a cabeça.
Rose toca no ombro de Alice:
-- Faça as duas coisas... Estude magia, mas volte para casa... – A mulher sorria. – Não desapareça como seus irmãos.
Alice a olhou nos olhos.
-- É minha vida, mãe... Voltarei se meu coração me mandar voltar...
Rose a soltou e suspirou profundamente:
-- Está decidida?
Alice confirmou com a cabeça.
-- Então só posso orar à Hokori para que um dia você volte.
Alice sorriu. – Obrigada!
-- Agora... Do que você precisa?
-- Penas de Teleporte! Precisamos ir para Daekor.
-- E você terá as penas... Volte aqui, à meia-noite enquanto o baile estiver acontecendo e eu as entregarei...
-- Verdade, mãe? Que bom! – Alice abraçou sua mãe e correu para contar para Noah e Miranda que conseguira as penas.
Sua mãe a olhava, sinistramente preocupada.
Continua...