quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Três Mundos - Parte 9 - Passados que deixam marcas.


Anjos e demônios não podem se apaixonar. É uma regra. Quando isso acontece alguém tem que ceder, ou o demônio deixa seus poderes e vive uma vida de medo fugindo de seus iguais ou o anjo cai, perdendo suas benções e glórias.
Estella é um anjo caído.
Ela caiu por amor...

...
As penas sujas e amassadas de Estella caiam no chão de madeira do navio.
-- Voltem! Dêem meia-volta!  -- Gritava Alecius puxando cordas para fazer as velas voltar-se contra o vento, a batalha com Noah havia sido interrompida, havia preocupação maior vindo daquele local.
Os piratas se moviam para fazer o navio girar.
No meio da balburdia Miranda olhara para cima, vendo Estella.
-- Você... – A boneca quase rosnava.
Noah e Alice também notaram a presença da mulher.
-- Um anjo? Ela é um anjo? – Falava Alice.
-- Estella! – Gritava Noah com a lança apontada para cima.
A anja descera lentamente para a proa do navio.
-- Eu enviei um Pesadelo! Um Pesadelo! – Dizia Estella. – Mas terei que matá-lo com minhas mãos, sangue de Francis!
A mulher levanta a mão e o chão do navio começa a tremer. Pequenos vulcões começam a brotar do chão, principalmente ao redor de Noah. Os pequenos vulcões começam a derramar lava, corroendo a madeira do navio.

Noah usa a lança para fazer uma espécie de salto e sair da lava que o rodeava.
Alice jogava pontas de gelo em Estella, mas a mesma criava escudos de fogo que derretiam as agulhas, transformando-as em fumaça.
Miranda corre pela lava, machucaria os pés de um humano, mas a boneca não mostrava sentir dor alguma. Jogara-se em Estella, segurando a gola de sua camisa.
-- Cadê a minha carta? Onde está? – Ela gritava.
-- Oras, mas que atrevimento! – Gritava Estella empurrando a boneca.
O navio começava a afundar lentamente por conta dos buracos causados pela lava. Os piratas subiam em botes, tentando fugir.
-- Vocês três! Vamos sair daqui! – Gritava Alecius.
-- Miranda sai daí! – Agora gritava Alice tentando apagar o fogo que começava a aumentar puxando a água do mar com magia.
-- Cadê a carta? – Miranda gritava mais ainda.
-- Você que saber o que diz a carta? – Estella gritava respondendo Miranda. – Seu criador está morto! MORTO!
A boneca paralisou-se na frente da anja. Uma coluna de fogo se formou ao redor de Estella, empurrando Miranda no mar. Seus cabelos que estavam presos numa trança se soltam, se espalhando delicadamente enquanto a boneca afundava no mar.
-- Mor... to? – Ela falou antes de desligar.


...
Noah e Alice correram para a borda e gritando pelo nome de Miranda se preparavam para pular quando Alecius fora mais rápido:
-- Cuidem do monstro que eu salvo sua amiga. Cuidado com meu tesouro que está no andar de baixo. – Ele disse jogando-se no mar escuro.
...
Noah segurava veementemente sua lança apontando-a para Estella, que descia lentamente para o chão queimado e rachado.
-- Como pôde fazer isso com a Miranda? – Gritava Alice.
-- O que você quer comigo? O que eu fiz pra você? – Gritava Noah, que corria para Estella com sua lança pronta para atacá-la.
Alice levantava as mãos e as águas negras que carregavam o navio a obedeciam. As águas levantavam-se, formando pilares enormes ao redor do navio.
A lança perfura o ar, passando entre as penas machucadas e podres das asas de Estella. A mulher joga o corpo para o lado e no mesmo instante uma grande onda feita por Alice cai sobre a anja. Um peso bruto e destruidor que faz o navio balançar violentamente, derrubando caixas deixadas pelos piratas.
O navio tinha o andar de cima furado, queimando e encharcado, mas Noah corria pelas partes ruins do terreno como se elas não existissem, numa velocidade incrível, o guerreiro perfurava o ar tentando atingir Estella.

-- Me explica o que é você! – Noah corria para a anja, enquanto Alice usava sua magia para limpar a água no terreno que ela mesma derramara, ajudando assim Noah.
O homem estava próximo de Estella, pronto para atacá-lo novamente, quando a anja levita, esquivando-se do arco cortante feito pela lâmina da lança.
Estella voa até Alice e suas mãos começam a pegar fogo. A arquimaga usa as águas que ainda estavam em seus pés para fazer uma espécie de escudo, mas o fogo na mão da anja era mais forte, evaporando parte do escudo. Alice tenta fugir correndo para trás, mas o peso do corpo de Estella cai sobre o dela fazendo-a bater em uma parede e desmaiar.
-- Duas a menos. -- Dizia a mulher apontando para o rosto desacordado de Alice. Os dedos da anja fulminavam prontos para queimar a arquimaga.
Noah corria para ambas. Na corrida, passara sua lança numa poça de água, arranhando o chão até chegar a Estella. Com a lança batera na mão da anja, fazendo a bola de fogo que juntava entre os dedos voar longe para o céu.
-- Por que você odeia tanto o meu pai? – Gritava Noah.
Os olhos de Estella pareciam pegar fogo. Quando lançou outra esfera flamejante em Noah, que se esquivou, quase queimando seu braço e uma mecha de seu cabelo. A esfera rachou o chão, quebrando-o e mostrando a parte de baixo do navio onde havia alguns barris bem colocados em um canto, amarrados em grossas cordas.
-- Eu perdi tudo pelo Francis! – Gritava Estella. – Há tempos eu senti aquilo que chamam de amor. – Ela virava os olhos. – Bah! Sentimento ultraje. No momento era bom... Sentimentos de paz, alegria, arrepios...
Noah olhou para Alice, aquilo que ele sentira era amor?
Seu rosto corava e um sorriso se formava sem sua vontade.
-- Mas havia aquele prazer por guerra, aquela ‘honra’ em ser general. – Continuou Estella, balançando as asas, subindo um pouco e derrubando penas mortas. – Ele me deixou... Mas eu era cega. Cega e tola.-- Ela olhava para Noah com olhos de ódio. – Então por ele, traí os meus iguais... – A mulher quase sorria. – Entende? – Agora gritava. – Eu caí! Tornei-me isso que eu sou hoje por causa dele. – Então ela se acalmou. – Mas foi bom, fui até o submundo de Barakon, aprendi a mexer com magia negra, me tornei uma guerreira das sombras, quando ele estava ‘feliz’ ele me usava e isso já era o suficiente para me deixar feliz também.

Estella desceu novamente, tocando os pés no chão.
Alice abria os olhos, estava viva embora muito fraca.
-- Até que fiquei grávida...-- Falou Estella.
Noah a olhou, surpreso.

-- Eu tive um filho dele, alguém que se tornaria um guerreiro de Barakon como nós. – Ela fechava os olhos e suspirava, quando os abriram eles estavam em chamas. Seus braços se tornavam tentáculos flamejantes. – Ele disse que não queria um filho de uma anja, que se um dia fosse ter um filho seria de uma poderosa abissal como ele! – Os tentáculos corriam pelo chão rasgando a madeira com papel. – Agora veja você! Provavelmente ele encontrou uma abissal e procriou. – Ela falava com nojo. O tentáculo passou por Noah que tentou esquivar, mas teve sua lança jogada longe, perto de onde estava Alice, que segurou a arma antes de cair no mar.
-- E quanto a seu filho? – Perguntou Noah, tomando ar.
-- Odiei tanto ele que o deixei no submundo para morrer! Francis deve tê-lo encontrando no local onde deixei, deve tê-lo dado às escravas e o tornado um escravo também, você com certeza deve conhecê-lo, seu pai não perderia a chance de sempre humilhar o filho de uma anja. – Ela virava os olhos e se aproximava de Noah. – Agora não importa, Francis está morto, meu filho deve estar morto e você deve morrer!
Os tentáculos flamejantes foram jogados em Noah, jogando-o longe e fazendo uma grande queimadura em seu peito.
-- Mas... Eu... Sou filho único... – Disse Noah com poucas forças.

Continua...

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