A vida de Noah nunca foi fácil.
Nascido no reino de Barakon, tendo sangue de demônio correndo nas veias, era obrigado a ser cruel e sádico.
Nascido no reino de Barakon, tendo sangue de demônio correndo nas veias, era obrigado a ser cruel e sádico.
Não conseguia ser.
Gostava de ler. Sempre lera livros que o levava a outros
lugares, outros mundos. Nunca realmente conhecera esses mundos, às vezes nem
mesmo acreditava que fossem reais.
Havia uma biblioteca a muito esquecida, fora lá que a paixão
de Noah por livros nascera e fora lá que conhecera Robin, o orc.
Robin era uma contradição em sua raça. Não gostava de violência,
era um sábio, não um guerreiro. Por causa disso não durou muito tempo entre os
seus iguais. Robin fora morto pela sua própria aldeia em Korlama, a ilha dos
orcs. Sua alma mandada aleatoriamente para o reino de Barakon.
Robin havia encontrado essa biblioteca, tinha tomado ela para
si. Até que encontrara Noah, ambos sofriam da mesma forma e isso fez nascer uma
amizade.
...
Francis era líder de um exército no reino de Barakon,
conquistador de território, opressor dos fracos e inocentes. Ouve boatos que
capturara uma bela mulher, fazendo-a escrava e logo após tendo um filho.
Francis imaginava que aquele garoto seria o novo líder de
seu exército, que ele seria um demônio tão poderoso e conhecido como seu pai
jamais fora.
Mas o seu filho só se interessava por livros e paz.
Francis odiava paz, odiava livros, odiava seu filho, mas
acima de tudo, odiava Robin, o orc que levara seu filho a esse mundo.
Certa vez o general – demônio entrou na biblioteca e em meio
à chamas destruiu todo aquele local.
Francis lutara com Robin, mas o orc era realmente um sábio,
não um guerreiro. Assim que Noah chegou ao local pode ver a espada de seu pai
cortando o melhor amigo ao meio.
Noah entrou em frenesi.
Já era um mestre na lança nessa época. Apenas usava a lança
para defender, mas naquele dia usara para matar.
Noah perdeu um olho em batalha, uma marca que levaria para
toda vida.
Francis morreu.
Orgulhoso de um filho guerreiro.
...
O vento era salgado. O som do mar jogando suas ondas contra
a madeira do grande navio era ouvido, enquanto havia lâminas de sabres nos pescoços
de Miranda, Noah e Alice.
Estavam em um navio.
Um navio pirata.
-- Eu disse! Eu disse que não era uma boa idéia vir para
Daekor. – Gritava um jovem magro e amarelado, trajando uma roupa listrada. O
garoto segurava uma adaga, apontando no rosto de Noah. Sua mão tremia enquanto
olhava bem no olho do guerreiro.
Por azar os outros tripulantes daquele navio não eram como o
jovem magro. Eram homens fortes e confiantes com armas boas – provavelmente roubadas
– em mãos.
-- Pensei que íamos para Daekor. – Falava Noah tentando se
afastar da ponta de um sabre.
-- Estamos indo para Daekor, não ouviu o magrela falar? –
Dizia Alice também se defendendo de um sabre.
Noah diz:
-- Ah! Entendi a piada... Item mágico com senso de humor...
Miranda olhava seriamente para os piratas.
Ouviu-se um caminhar, os piratas abriram espaço para aquele
que se aproximava.
Era Alecius, o capitão. Um homem alto e bonito para um
pirata. Seu cabelo liso caia pelas costas de um lilás bonito, tinha um ar
elegante, embora mostrasse que conduzia seus homens à mão-de-ferro.
-- Capitão! Capitão! – O jovem amarelado corria para o
capitão, puxando seu terno e aparentando chorar. – Capitão! Vamos sair daqui
pelo amor de Nyar! Daekor é assombrado, eu falei, não falei?
Alecius colocava a mão na testa e suspirava:
-- Herman! – Foi só o que o capitão disse. O jovem se
escondeu atrás do capitão enquanto este caminhava até os três inquilinos.
Havia um sabre na cintura de Alecius que brilhava a luz do
sol, sobre o sabre, a mão do capitão.
-- Quem são vocês? – Perguntava Alecius.
-- Olha... – Noah começou a se levantar, mas fora empurrado
por um dos grandes tripulantes, fazendo-o cair sentado. --... Caímos aqui sem querer,
ta bom? Não queremos mexer com ninguém, apenas ir para Daekor.
-- Daekor? – Perguntou o capitão. – Estamos mesmo indo para
lá... Lugar cheio de zumbis... Bom para guardar tesouros, e temos uma carga bem grande de algo bem precioso aqui... – Alecius estendeu a mão
para Alice e para Miranda, levantando-as. – Mas só vão ficar com uma condição...
Assim que as garotas estavam em pé, Alecius saca seu sabre e
aponta para Noah.
-- Me desarme! Assim poderá ficar no navio com suas
amiguinhas.
Noah se apóia em sua lança e se levanta com um sorriso no
rosto.
-- Quer saber? Preciso mesmo de uma ação! – O guerreiro
aponta a lança para o capitão.
Os tripulantes se afastam. Enquanto alguns param para
assistir, outros simplesmente voltam a trabalhar dizendo que a vitória já era
de Alecius.
Miranda não se importa com a batalha à sua frente, apenas
olhava o mar, admirando a beleza do horizonte enquanto desejava a companhia de
seu criador.
Alice assistia aquilo nervosa, olhava o mar e imaginava o
que os piratas fariam com eles se Noah perdesse.
Noah corria por aquele chão de madeira com a lança apontada
para o capitão. Alecius usava o sabre para mudar a direção da ponta da lança,
enquanto se esquivava.
O capitão dava uma espécie de mortal para trás enquanto Noah
estocava com a lança em vários pontos diferentes, com Alecius sempre se
esquivando.
Os tripulantes que assistiam iam à loucura, gritavam
histéricos a cada esquivada do capitão, o que deixava Noah nervoso.
Alice gritava pelo amigo, mas sua voz não era nada perto dos
urros dos piratas.
Alecius fazia um arco horizontal no ar enquanto Noah jogava seu
corpo para trás. A lâmina quase toca o nariz do guerreiro, que num rápido movimento
passa a lança no chão quase atingindo os pés de Alecius que pulou na borda do
navio.
-- Muito bom para um guerreiro seco! – Dizia o capitão.
Pegando uma corda Alecius se joga batendo com as botas no peito de Noah.
Alice grita enquanto Miranda ainda observava o mar, perdida
em pensamentos.
Noah joga seu corpo para cima, levantando-se e rapidamente
estocando com a lança que iria ao ombro do capitão se o mesmo não a parasse com o
sabre.
Controlando o navio estava Herman, que por medo, não queria
ficar perto da pequena batalha.
O garoto magrelo se esforçava para controlar o timão do
navio quando grita:
-- Capitão! Estamos entrando nos mares de Daekor!
O continente espiritual já era visto. Daekor tem dois lados
que algumas pessoas chamam de ‘céu’ e ‘inferno’. Pela visão, não estavam no 'céu'.
O céu já escurecia, nuvens negras derramavam raios fortes e
vários vultos eram vistos ao longe correndo.
-- Ca... Capitão! Ainda podemos voltar... – Gaguejava Herman,
suas pernas tremiam. – Vamos para Lafaza, ouvi dizer que os piratas estão
ganhando poder no continente...
-- Herman! – Gritou Alecius, depois se voltando para o
continente. – Por Hokori, o local é pior do que eu imaginava...
Miranda olhava o continente com uma dor no coração, havia
acabado aquela beleza, o mar era agora negro e às vezes podiam-se ver criaturas
marinhas gigantes passando calmamente por baixo do navio.
A área de terra era ainda pior. A praia estava infestada por
zumbis e corpos humanos, ao longe o baralho da guerra parecia ensurdecedor.
-- Que horror! – Dizia Miranda se aproximando de Noah junto
a Alice.
-- Precisamos sair daqui! – Dizia Alice.
Noah olhava o local em meio ao caos e dava um sorriso baixo.
-- Não chega nem perto do submundo de Barakon... – Falava para
si mesmo.
O navio foi um pouco para frente.
Entrara nas águas de Daekor.
...
Muito longe dali, em sua torre, sentada no escuro estava
Estella. A mulher estava suja e desarrumada, seus olhos, vermelhos de lágrimas
e os pés sempre sujos de sangue. A celestial caída sussurrava o nome de
Francis, enquanto se deitava em posição fetal.
Assim que o navio de Alecius entrara nas águas de Daekor,
Estella sentira algo, parando de chorar, levantando-se.
-- Ele está vivo? – Ela se aproxima do buraco feito outrora
em sua parede e fita o mar de Daekor ao longe.
-- Ele está vivo! –
Suas asas rasgadas saem de suas costas, cobrindo-a e a
teleportando novamente.
Continua...
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