Marisa quase não conseguira dormir na noite passada, ficara perdida em pensamentos até finalmente conseguir fechar os olhos, isso era bom, ela achava que tinha ficado numa espécie de 'vigilia'. Assim que acordara, a mulher percebera que Andrews não estava mais alí, só o que se encontrava naquele local era a fogueira, que naquele momento estava apagada. A cavaleira levantou desesperada, como se não houvesse nenhum sono e começou a olhar em todos os lugares, assim que virou seu rosto para o lago pôde ver o bardo que tomava banho, mesmo de costas notava-se que ele estava completamente nu. Marisa ficara altamente vermelha e num impulso pegara uma pedra e jogara nele. A pedra quase pegara no bardo, mas foi o suficiente para fazer o homem virar de frente. O que fez a cavaleira começar a jogar um monte de pedras nele.
Ambos já andavam em uma estrada com destino a Shufu, e enquanto Marisa bufava andando na frente, Andrews perguntava atrás, enquanto acariciava sua cabeça que estava machucada por causa de uma 'certa pedrada'.
-- Não entendo o que eu fiz... -- Ele reclamava.
-- Você é um tarado! Primeiro me beija sem permissão, depois aparece pelado na minha frente... -- Dizia Marisa em um tom alto sem nem olhar para trás.
-- Pela forma que você me trata, com pedradas e tapas eu poderia dizer que você nunca viu um homem nu na sua vida...
Marisa continua andando, dessa vez de cabeça baixa vermelha.
Andrews entendeu aquilo como uma resposta.
-- Sério? Digo... Sei que é bonito as donzelas se preservarem, mas você é bem bonita e é uma Espada do Poder, deve viver rodeada de homens... Só falta me dizer que você nunca beijou um homem...
-- Isso não é da sua conta... -- Foi só o que Marisa conseguiu dizer.Andrews parou-a pelo braço e assim que ela virou-se para ele, o mesmo a fitou com seus belos olhos e disse:
-- O que? Quer dizer que você nunca beijou um homem?
Marisa dessa vez ficou calada, ainda presa pelo braço, apenas desviou o olhar, totalmente vermelha.-- Você não é daquelas que gostam dos afagos femininos, é? -- Perguntou o bardo.
-- O que? Não... Não... Está louco... -- Gritou Marisa e depois diminuindo o tom ela quase que sussurou: -- É que eu nunca tive tempo para romances, nem amizades... Gastei minha vida inteira, completamente para os Espadas do Poder...
-- Isso é triste... -- Disse o homem.
Marisa olhou para ele, curiosa, esperando que ele fosse falar mais...
-- Digo... Perder esse tipo de coisa... Amores, Amizades... Uma pessoa que nunca sentiu essa emoção na vida não poderia se considerar viva...
Marisa continuou calada, assim que Andrews lentamente soltou seu braço, a mulher cortou o próprio silencio:-- ...Pelo meu pai... -- Ela disse...
Agora ele que olhou para ela, esperando continuação.
-- Eu nunca me dei bem com meu pai, nós brigavámos muito antes dele morrer, ele sempre quis ter um filho que fosse da cavalaria real de Shufu, mas erámos pobres, não tínhamos como pagar armas, armaduras ou mesmo treinamento... Sem falar que... Eu só queria ser uma camponesa normal... Casar, ter filhos e morar numa casa simples...
-- Então por que nunca fez isso? Ele a obrigou a se tornar uma cavaleira?
-- Não... Na verdade, não... -- Ela suspirou. -- Há alguns anos eu descobri que ele tentou se tornar um cavaleiro quando jovem... E não conseguiu... Era o sonho dele... Então eu me tornei, pra mostrar que eu era melhor...Andrews olhou para a mulher, perplexo.
-- Então é isso? -- Perguntou o bardo. -- você perdeu todas as coisas boas da vida, perdeu toda a sua personalidade e seus sonhos... Por vingança? Você é idiota...
Marisa olhou para Andrews de olhos arregalados, não esperava que ele falasse isso...
-- Mas ser uma Espada do Poder é uma honra... Um sonho comum entre muitos dos habitantes de Drimlaê, senão de Gensõ... Pessoas se matariam para ser um cavaleiro de Tyali...
-- Se fosse o sonho deles... -- Falou Andrews com uma voz firme e forte, que assustou a mulher. -- Eu pensei que você fosse melhor... Me enganei... -- Andrews começou a seguir a estrada. -- Vamos! Vamos voltar para o seus Espadas do Poder, vamos mostrar que você é digna de ser um... Assim você vai continuar o resto da sua vida... Infeliz...
Marisa chamou o nome dele, e assim que tocara em seu braço, querendo fazer ele virar para ela, algo caiu de cima de uma grande árvore na frente dos dois. Era um monstro. Uma aranha simples, mas muito grande. Acima da cabeça dos dois havia uma grande teia, na teia haviam ossos de animais e alguns de humanos, enrolados em fios fortes.
Antes que pudesse falar qualquer coisa, a aranha soltou uma rajada de fios em direção ao bardo, que rapidamente fora puxado pela cavaleira.
-- Droga! Temos que sair daqui... -- Ela olhou para o alaúde de Andrews. -- Porque você não toca aquela música que acalma feras?
Rapidamente, Andrews virou seu alaúde para a parte da frente e dedilhou algumas notas que sairam fracas e erradas.
-- O que houve? -- Perguntou Marisa.-- Ela é forte demais, não vai ser enfeitiçada pelo som da minha música... E digamos que eu não esteja com força de vontade suficiente para tocar uma boa música agora. -- Ele olhou friamente para a mulher.
-- Então vamos ter que atacar normalmente se quisermos sair daqui... -- Gritou a mulher indo em direção à aranha com sua espada já em mãos.
A espada passou em uma das patas da criatura, fazendo um pequeno arranhão nela, deixando a criatura com raiva. Aquelas patas assustadoras correram organizadas para cima de Marisa e com as duas patas pequenas da frente a critura atacou a mulher.
O golpe fora certeiro, o ataque batera no ombro de Marisa, fazendo-a cair de dor. Andrews gritou seu nome e correu em direção à aranha com o alaúde em mãos e mirando o centro de sua cabeça batera com o instrumento.
O som do instrumento fez-se na cabeça da criatura que por um momento teve um leve balanço em suas pernas.
A critura tentou atacar Andrews da mesma forma que fizera com Marisa, mas num rápido movimento, Marisa que conseguira se levantar com um pouco de esforço, pegara sua espada e correra o mais rápido possivel em direção à criatura que estava quase atingindo o companheiro, atacando-a no abdomem.
O abdomem daquela aberração fora cortado ao meio, derrubando uma espécie de substância roxa, que provavelmente seria seus orgãos internos. A criatura estava morta. Marisa caira no chão, cansada e com o ombro ferido.
-- Marisa você está bem?-- Perguntou o bardo se aproximando da mulher e tocando seu braço, que não sangrava mas estava muito vermelho.
-- É... Estou... Só um pouco de dor, nada que um longo descanso não recupere... Por que? Tá preocupado com uma idiota? -- Ela falou com a voz fraca e sorrindo.
-- Você não é idiota, apenas fez as escolhas erradas... Mas ainda tem tempo de mudar, os Espadas do Poder não vão brigar com você porque desistiu deles para se casar, sabia?
-- Me casar? -- Ela sorriu. -- Com quem?
Andrews não respondeu com palavras, mas sim com um beijo. Não um beijo de surpresa como da última vez, mas um beijo real, um beijo acolhedor e apaixonado, um beijo que Marisa retornou.
-- Comigo... -- Disse o bardo ainda com o rosto próximo ao da mulher.Marisa estava vermelha quando Andrews começara a falar:
-- "Você ficará preso naquela torre... Para poder salvar uma donzela..."
-- O que? -- Ela perguntou, confusa.
-- É o resto da minha maldição... Eu também não entendia, mas agora tudo faz sentido... Eu fiquei preso até poder encontrar você... Pra ti salvar de uma vida de tristeza, pra ti mostrar o verdadeiro amor... -- Ele segurou a mão da mulher e a olhou bem nos olhos. -- Marisa, se aceitar viver comigo, prometo passar o resto da minha vida ti dando todo amor que um bardo pode lhe oferecer.
Ela fechou os olhos, suspirou uma vez e sorriu. Assim ambos se entregaram novamente a um beijo, um beijo doce e apaixonado.
Marisa e Andrews tinham continuado o caminho para Shufu, iam até os Espada do Poder, mas dessa vez não era para provar nada a ninguém, dessa vez ela ia dizer que não seria mais uma cavaleira... Iria viver com Andrews, seu marido, em uma cabana simples e teriam belos filhos... Como prova disso, Marisa deixou sua espada na floresta...
FIM
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