-- Então seu nome é mesmo Marisa? É tão belo, soa como a uma música... Uma música grossa, mas que guarda delicadeza nas suas entrelinhas... -- Dizia o bardo quebrando o silencio que fazia entre os dois enquanto caminhavam naquela estrada de difícil passagem por causa das folhagens grossas que ficavam no caminho.
Marisa rosnou e sem parar de andar e de cortar as plantas que atrpalhavam o caminho falou: -- É a quarta vez que você fala isso, não cansa de ser chato não?
Andrews fez um sorriso de canto de boca, dizendo: -- Estamos só nós dois nessa floresta, pra quem você quer provar a sua força?
-- O que? -- Perguntou Marisa parando e virando-se para o homem, fitando-o com seus olhos confusos e irados. -- Agora eu tive certeza, você é realmente louco... Do que você está falando?
-- Digamos que nós bardos temos um dom especial, nós sentimos o que as pessoas realmente são, deve ser um dom que ganhamos quando criamos muitas músicas que falam sobre sentimentos... -- Andrews alinhou perfeitamente seu alaúde nas costas e sorrio sensualmente para Marisa. -- ... E algo nesse dom me diz que você não é o que realmente demonstra ser...
Marisa ficou vermelha, não sabia do que aquele homem estava falando, talvez nem mesmo ele soubesse, mas achava melhor não puxar papo, então voltou a cortar as plantas do caminho, grosseiramente, enquanto caminhava em silêncio.
Os dois haviam caminhado mais um pouco, as plantas no meio do caminho haviam desaparecido, agora no chão havia uma pequena estrada já feita sem folhas. Isso significava que a população estava próxima.
Nesse momento o sol já estava se escondendo, e era perigoso andar em florestas assim a noite, então decidiram parar.
Havia um pequeno lago para ambos pegarem algum alimento e poderem fazer uma fogueira para seguirem adiante, e assim, quando a lua iluminava o céu e a fogueira fazia um delicioso cheiro de peixe frito, ambos sentaram.
O silencio era constrangedor para Marisa. Ela imaginava se Andrews também sentia aquele constrangimento, mas o bardo apenas parecia comer o peixe com um rosto muito feliz.
-- Porque você estava preso naquela torre? -- Perguntou a cavaleira comendo peixe, sem olhar para o homem.
Andrews se sentiu feliz que ela finalmente havia quebrado aquele silencio e olhando para ela, dando a ultima mordida no peixe, sorriu e respondeu:
-- Amei demais...
A cavaleira olhou para ele, confusa enquanto ele tomava um pouco de água que ambos pegaram no rio. Ela decidiu que não ia perguntar, mas sua curiosidade falou mais alto.
-- Como assim?
Ele sorriu sensualmente para ela e perguntou:
-- Está interessada em mim, donzela?
Marisa ficara vermelha e dando o ultimo pedaço no peixe falou de boca cheia:
-- Quer saber? Não tô nem aí, se não quer falar é só não falar oras...
Soltando uma simples risada ele começou:
-- Há alguns anos atrás me apaixonei por uma moça, era a moça mais linda que eu já tinha visto... Mas ela tinha um marido... Mas não era um 'marido' qualquer... Era um bruxo... A esposa dele amava ele, não a mim... Então ele me rogou uma maldição...
"Você ficará preso naquela torre..."
-- ... Até uma donzela virgem e corajosa lhe resgatar? -- Completou Marisa. -- É o que as pessoas de Shufu me falaram...
-- É o que as pessoas de Shufu falam... -- Foi apenas o que ele disse, quando virou-se para ela com um sorriso nos lábios. -- E você? Pra que quer tanto me salvar?
-- Quero ser uma Espada do Poder... -- Marisa foi curta e grossa ao responder.
-- Sério? -- O bardo sorriu. -- A cavalaria real de Drimlaê? Os guerreiros de Tyali? Isso é legal... Mas... Porque?
Marisa se surpreendeu com a última pergunta, ninguém nunca havia lhe perguntando o porque de querer ser uma cavaleira. Era o que todo mundo queria, dava prestígio, honra, fama e dinheiro. Porque alguém NÂO iria querer ser um?
-- Por que sim... -- Foi só o que ela respondeu.
Agora ele que olhou surpreso para ela.
-- Que foi? -- Ela perguntou quando viu a expressão no rosto do bardo.
Ele sorriu e disse: -- Espadas do Poder são a cavalaria real de um dos maiores continentes de Gensõ... Para querer se tornar um deles você tem que ter aquela vontade de ajudar o próximo, proteger os mais fracos... Para ser um cavaleiro precisa ter um objetivo forte...
Marisa ficou perdida em pensamentos a ouvir o homem dizer aquilo.
-- Heh! -- Sorriu o bardo. -- Mas quem sou eu? Tolo bardo... Para dizer que uma Espada do Poder precisa ter honra? -- Assim Andrews deitou-se e dormiu.
Do outro lado Marisa deitou-se em silêncio e pensativa, e sobre o céu estrelado, adormeceu também.
...
Naquela noite Marisa teve um sonho... Não um sonho comum, era na verdade mais uma lembrança de seu passado. No sonho ela não passava de uma garota de 14 anos, não mudara quase nada. Morava com os pais numa simples cabana em Shufu, nesse dia haveria uma espécie de celebração e vários cavaleiros estavam, sob suas montarias, desfilando pela cidade. Haviam muitas pessoas olhando aquele belo desfile, inclusive Marisa e seus pais.
-- Mãe! Mãe! Quem são eles? -- Perguntou a garota com uma voz fina e delicada.
-- São os Espada do Poder... Os novos e maiores cavaleiros de Drimlaê... -- Mas quem havia respondido não fora sua mãe, mas sim seu pai. A expressão no olhar do pai de Marisa era séria e triste, olhando para os cavaleiros. O homem olhou para eles, depois para Marisa e disse:
-- Você nunca conseguirá se tornar uma cavaleira... Porque você é pobre... Tenho vergonha de você...
A expressão no rosto da pequena garota era desesperada, assustada. O seu pai havia ido embora, não vira o final do desfile e abraçada à mãe, a pequena garotinha chorou copiosamente.
De verdade, Marisa acordara e no seu rosto haviam lágrimas novamente...
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