Os aços das laminas das guerreiras se chocavam, algumas faíscas voavam pela força que ambas colocavam nos ataques.
...
Layla balançava Hanami enquanto gritava seu nome, mas nada a acordava, o que desesperava a meio-elfa mais ainda. Na frente de Hanami o pequeno robô flutuava, seus olhos piscavam em uma coloração avermelhada, enquanto repetia:
-- Changeling! Changeling!
Layla olha para o robô e se aproximo pegando-o com as mãos:
--- O que é você? E o que é isso que você está falando há horas? O que é Changeling?
Na hora em que Layla pergunta da cabeça do robô uma luz sai, e da luz se faz um telão no ar. O telão mostrava uma imagem, era a senhora Masamita sentada em uma cadeira simples de madeira, ela olhava para frente:
-- ‘Tá filmando? – Ela perguntava ajeitando os óculos e se aproximando do que seria a ‘câmera’ movendo ela. – Sim, está filmando... – Ela volta para sua cadeira e sua expressão agora é séria:
-- Changelings... – Ela faz uma pausa e a imagem no telão escurece se tornando um jogo de cores dançantes enquanto a voz da senhora Masamita ainda soa ao fundo.
-- Quando Tyali, o deus do poder criou os humanos, os deuses logo se apaixonaram por eles, porque eles eram diferentes de tudo já criado, eles tinham algo que nenhum ser ainda tinha naquela época... Eles tinham ambições, eles tinham sonhos... – Na tela havia a imagem de Tyali, um mendigo com uma bela coroa de ouro em sua cabeça e no fundo, um grande monstro apareceu assustando Layla levemente. – Mas Kalah, deus dos monstros e do caos não gostou dos humanos, pois eles roubaram o mundo de seus filhos, acabando assim a Era de Kalah... – A imagem mudava novamente, agora no telão havia pessoas mortas, devastação e tragédia.
– A primeira tentativa de Kalah em destruir os humanos foi à típica estratégia do deus da destruição, matar sem pena. Mas mesmo assim nós sobrevivemos por isso Kalah mostrou mais uma vez que o caos é algo inesperado, e enquanto todos imaginavam que ele continuaria com sua destruição desenfreada ele simplesmente atacou os humanos de uma forma que ninguém esperaria, atingindo o que eles tinham de mais poderoso, sua ambição, seus sonhos. E com uma pitada de loucura, Kalah criou os changelings, os pesadelos vivos.
A tela apagou e quando voltou à senhora Masamita ainda estava sentada na mesma cadeira, mas com uma pilha de papeis na mão. Ela ajeitou os óculos, folheou aquele grupo de páginas avulsas e tirou uma de seu meio, mostrando para a ‘câmera’. Na folha havia um desenho e Layla reconheceu aquele desenho, era o monstro que ela viu em seus sonhos, a criatura cadavérica em que a fada havia se tornado.
...
A falsa Hanami já estava cansada de lutar, as espadas se chocavam muitas vezes. A real Hanami mirava o peito de sua sósia, queria acertar seu coração, mas a outra era rápida com a katana também.
-- O que você quer de mim? – Gritava Hanami fazendo um corte diagonal, por pouco não atingiu o ombro de sua inimiga, pois a mesma se esquivou jogando o corpo para trás num mortal.
-- Quero apenas ajudar... Esqueça seus problemas e fique aqui comigo... Sonhe... – Ela sorriu mas seus sorriso era sombrio e interesseiro.
-- Terá que me matar... – Hanami correu com sua katana em mãos para cima da outra, que segurava sua arma também, mas em posição de defesa.
...
-- Essa é a imagem de um changeling... -- Continuou à senhora Masamita. – Ela foi desenhada por um amigo meu... Um aventureiro que sobreviveu de uma criatura dessas... – Sua expressão ficou triste. – Que Liaavel o tenha... Por causa da loucura que é viver em um mundo de pesadelos o próprio acabou se matando... – Fez um breve silencio e assim que sua expressão voltou ao normal ela se aproximou da câmera. – Changelings se alimentam de pesadelos, de medo, ao encontrar um, a pessoa tem que ser muito forte, não pensar em seus medos... Ou fica presa em um mundo de sonhos no qual a criatura fica se alimentando, quanto mais vitimas, mais forte é esse monstro... Não esquecer isso...
A tela ficou escura novamente e desligou.
Layla fitou o pequeno robô, impressionada.
-- A senhora Masamita sabia que pegaríamos o caminho mais curto, por isso enviou você... Eu sou grata por isso... – A meio-elfa sorriu para o robô e logo em seguida virou-se para Hanami que ainda estava deitada. Ela correu até a amiga e balançando-a gritava:
-- ACORDA HANAMI, ACORDA...!
...
Sua sósia corria em alta velocidade para cima da verdadeira e com um forte impulso em seu punho faz um corte vertical pronto para rachar a cabeça de sua inimiga, mas agora é Hanami que é mais rápida esquivando-se, deixando a katana de sua sósia bater no que deveria ser o chão, já que tudo está coberto por trevas. Hanami pôde ver as faíscas da katana inimiga enquanto se apóia em sua própria arma, respirando profundamente, cansada.
-- Essa é sua escolha... Continuar toda eternidade lutando comigo ou apenas descansar e sonhar...
Todas as trevas ao redor das duas se tornam uma bela paisagem, era uma vívida praia e Hanami estava à beira-mar, enquanto o vento tocava seus cabelos, o mar tocava seus pés e por um segundo ela pensou que seria melhor ficar ali...
...
-- Hanami! Acorda Hanami! – Layla ainda balançava a amiga.
A arvores atrás de Hanami começou a devagar se mover, era como se estivesse viva, se abrindo ao redor da samurai como se quisesse engoli-la. Alguns pedaços de madeira começaram a cobrir o ombro de Hanami.
Layla, assustada se afastou para trás: -- O que é isso? – Ela gritava enquanto o robô rodeava Hanami gritando: -- Perigo! Perigo!
...
Hanami se abaixou e tocou na água do mar, era tão suave, tão confortável. Ela olhou ao redor e pensou consigo mesma ‘quem não gostaria de viver naquele local para sempre?’
-- Eu não quero te machucar... – Dizia sua sósia soltando a katana, que caiu na areia fofa da praia e se aproximando da verdadeira. – Você se prendeu demais em honras inúteis, não perca sua vida tentando provar que pode ser uma boa samurai... Esqueça isso... Esqueça tudo...
O pensamento na cabeça de Hanami era cada vez mais forte sobre ficar naquele local, sobre esquecer seus problemas.
A samurai finalmente decidiu-se, enquanto fitava o local e sua sósia, realmente pensou em ficar, então lentamente, enquanto ainda terminava sua decisão começou a soltar sua katana.
...
Na realidade, a árvore começava a cobrir quase totalmente seu corpo, Layla estava desesperada, chorava e balançava o que restava de sua amiga. A sacerdotisa olhava para o robô em meio a lágrimas, ele também não sabia o que fazer. Layla levantou-se, começou a correr entre as árvores, procurando por socorro, seus gritos eram altos mas ali perto não havia ninguém que pudesse ouvir.
...
A mão de Hanami estava próxima de soltar sua katana. O olhar de sua sósia era sombrio e sorridente, como se estivesse próxima a vencer uma batalha. Os céus pareciam escurecer atrás de Hanami sem que ela notasse.
...
Layla estava cansada de gritar. Não havia ninguém ali para ajudar e em lágrimas encostou-se em uma árvore para ver os últimos suspiros de vida de sua amiga.
Para sua surpresa, a árvore parecia respirar. Layla encostou suas orelhas semi-pontudas no tronco e ela realmente respirava... E roncava!
A meio-elfa encostou a mão na árvore e ela parecia oca. Ela puxou um pouco seu tronco e ela abriu, deixando cair um senhor solaseliano de idade em meio a muita seiva. Layla se ajoelhou para ajuda e logo viu que o senhor ainda estava vivo, estava em perfeita condição. Ele abria os olhos de um longo sono...
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