Havia um tronco caído. Nele havia desenhos e palavras numa caligrafia mal feita e infantil.
Esses nomes e desenhos simbolizavam o descobrimento de um primeiro amor.
Sentados sobre o tronco estavam um casal de crianças, um humano e uma meio-elfa, aparentavam mais ou menos 10 anos cada uma. Eles sorriam enquanto olhavam o pôr-do-sol que ao longe pintava o céu de uma coloração rosada.
-- É bonito, né? – Dizia o menino olhando o sol de uma forma curiosa e inspirada. O garoto era muito bonito, de pele bem branca contrastando com a cor escura de seu cabelo. Seus olhos eram de um azul forte que ao longe se podia dizer que era preto. Os olhos daquela criança eram brilhantes fitando as cores que dançavam em sua cabeça, como um verdadeiro crítico de pintura ao ver uma pintura perfeita.
-- É lindo... – A garotinha respondeu admirada com o céu, era uma pequena meio-elfa de cabelos azuis e olhos rosados. Seus olhinhos eram travessos e felizes, mas sua expressão era mais infantil olhando o céu, como se aquilo fosse apenas bonito e nada mais, não tinha a mesma visão de seu companheiro.
A pequena mão do garoto passou delicadamente por sobre o tronco, ele podia sentir cada desenho, cada palavra mal escrita naquele pedaço de madeira, mas para ambos aqueles símbolos eram perfeitos. Quando a mão dele tocou na dela.
Eles continuaram fitando os céus, mas seus rostos eram vermelhos naquele momento e a garota apertou sua mão contra a dele como resposta.
Ele se aproximou do ombro dela e encostou sua pequena cabeça nele, ainda fitando os céus.
-- Quando crescermos... Eu vou casar com você... – O garoto disse com o rosto virado para o pôr-do-sol, mas vendo sua pequena amada pelo canto dos olhos.
A meio-elfa virou-se para ele sorrindo e dando-lhe um abraço falou:
-- Serei sua noiva...
...
Um pouco distante de onde as crianças se encontravam havia um casal, ele um humano de cabelos pretos e uma barba um pouco grande, aparentando cansaço. Sentado numa mesa velha, numa cozinha pequena, numa cabana pobre, o homem olhava para os olhos de uma elfa de cabelos longos e loiro, que naquele momento estavam bagunçados e mal cuidados.
-- Precisamos de dinheiro... Está difícil pagar a comida, passaremos fome... Estamos doentes, precisamos de remédios... – Disse o homem colocando as mãos em suas têmporas, pensando em alguma coisa que poderia fazer.
A elfa colocou a mão delicadamente no braço do homem e disse:
-- Não se preocupe querido... – Ela pegou um saco e colocou sobre a mesa, quando o homem a abriu havia moedas de ouro, muitas delas.
-- Como você conseguiu esse dinheiro? – Perguntou o homem surpreso enquanto mordia uma das moedas, vendo que eram reais.
-- Lembra daquilo que falamos que faríamos na nossa última opção?
O homem largou a moeda no mesmo instante, que rolou na mesa e caiu no chão.
-- Não... Você não fez...
A elfa abaixou a cabeça e falou em meio à choramingos:
-- Sim... Prometi nossa filha em casamento para o bruxo da montanha...
E ambos começaram a chorar...
...
O caminho em que as mulheres tomaram era realmente o mais curto, ao longe se podia ver o grande colosso de Liaavel, uma grande estrutura onde são realizados os eventos em nome da deusa da batalha.
Layla fitava com seu par de olhos para a pequena esfera de ferro dada pela senhora Masamita.
-- O que será isso? – Ela perguntava olhando cada pedaço da esfera.
-- Não sei, mas se eu fosse você largava isso aí, do jeito que aquela velha era louca é capaz de isso ser uma bomba e destruir toda Gensõ...
Layla soltou um pequeno sorriso: -- Você é exagerada...
-- Apenas não confio...
Layla olhou bem para a companheira e falou:
-- Não entendo porque essa falta de confiança toda, você quase me matou ontem, sabia?
-- Você poderia ser uma maga, magos são criaturas das trevas, mesmo o que se faz de mais bondoso, é o que diz Liaavel...
Layla voltou a olhar para esfera, mas suas palavras ainda eram voltadas para a amiga:
-- Ah! A famosa guerra do Punho Arcano, né? Filhos de Liaavel odeiam os filhos de Therwin... Guerreiros Solaselianos odiando todos os místicos... Sabe? Não me dou bem com magos, mas também não os odeio...
-- Pois deveria... – Foi só o que Hanami falara, depois disso houve alguns minutos de silencio, silencio entre as duas mulheres, pois o caminho de terra onde elas andavam era barulhento. Havia pássaros sob sua cabeça e as árvores que fazia uma espécie de muro de seus lados balançavam-se, batendo uma na outra. Quanto mais elas andavam mais longe o Colosso de Liaavel parecia ficar.
Passaram-se aparentemente horas, Layla já não estava mais interessada na esfera de ferro e Hanami segurava suas duas armas também cansada.
-- Tem certeza que estamos indo pelo local certo? – Perguntou Layla tentando olhar para o mapa.
-- Claro que tenho... É o que diz aqui... – Disse Hanami levantando bem alto o mapa. – Mas parece que estamos, sei lá, andando em círculos...
-- Maagany! Que local longe... Seria mais fácil ter voltado a pé para casa... – Disse Layla sentando-se em uma arvore, ela estava sonolenta e muito cansada.
-- O pior é que eu também estou achando tão longe... – Assim que Hanami virou-se para Layla ela já dormia com a esfera de ferro em mãos.
Hanami pensou consigo mesma que não seria muito ruim descansar um pouco também, até ela estava cansada, então se sentando ao lado de Layla, na mesma árvore ela também dormiu ali mesmo.
Ao redor das mulheres um vento soprou delicadamente e as cores ao seu redor começaram a ficar turvas e embaraçadas, na mão de Layla uma luz vermelha começou a piscar na esfera, algo estava para acontecer...
...
Do que você tem medo?
Os olhos delicados da meio-elfa se abriram, e ela não estava mais naquela floresta. Em sua mão, a esfera de ferro e no seu corpo o mesmo vestido, mas o cenário não era mais o mesmo, mas era um cenário conhecido. Estava de volta em casa.
Aquelas paredes de madeira que pareciam que iam cair a qualquer momento estavam ali, era seu quarto, sua estante com livros de romance e fotos de bardos galãs do reinado estavam enfeitando aquela parede.
-- Eu voltei para casa? – Ela abriu uma porta que dava para uma escadaria, levantando a barra do vestido ela desce alegre por cada degrau. --- Pai! Mãe! Eu estou aqui!
Mas assim que chegou embaixo... Nada... Apenas uma casa vazia, móveis velhos e sujos de poeira, parecia que alguém há muito tempo não entrava ou movia alguma coisa ali. Layla se encostou a uma parede não podia acreditar que estava ali de novo, tentou lembrar-se da ultima coisa que viveu, estava na arvore, com Hanami...
Onde a outra mulher poderia estar?
A meio-elfa saiu correndo da casa, havia um grande gramado, seu vestido e seus cabelos voavam ao vento e ao longe se podia ver um tronco caído. No tronco havia uma pessoa sentada, mas não era Hanami, era um homem. Um belo rapaz de cabelos pretos. Nas costas, havia um grande símbolo desenhado em sua blusa, era uma nota musical com uma coloração roxa, ele era um sacerdote também, um sacerdote de Clawyn, deus da música e do amor.
--- Derek? --- Layla gritou assim que fitou aquelas costas.
O homem virou-se, era maravilhoso, aparentemente jovem, mas com um toque de responsabilidade no olhar.
--- Layla? Layla amor da minha vida, motivo da minha existência... --- Ele correu para os braços da meio-elfa e ela para os dele.
Mas algo aconteceu, um vento forte soprou no meio do casal, o céu que era de um azul tranqüilo se tornou negro e assustador, o forte vento arrancou a casa atrás de Layla, despedaçando-a.
Layla virou-se para a casa, viu ela destruída, mas antes mesmo de gritar alguma coisa, viu uma cena pior, atrás de Derek, um senhor usando um grande capuz de uma tonalidade esverdeada faz duas rochas rasgarem o gramado verde e esmagarem o sacerdote de Clawyn bem no meio, na frente de sua amada. Layla gritou o nome de Derek, foi só o que ela pode fazer, pois o corpo de seu amado já estava jazido no chão, esmagado pelas rochas e envolto pelo seu vermelho sangue. Os olhos da meio-elfa se encheram de lagrimas enquanto os lábios daquele que controla a terra se encheu com um sorriso.
-- Não adianta pequena flor da terra, você é minha, está prometida a mim... E por isso será minha... – Ele caminhou até Layla e ela estava em lagrimas pela cena que acabara de presenciar. O grande senhor de cabelos e barba brancos tocou seu queixo levantando o seu rosto e lhe dando um beijo.
No meio dos lábios saiu sangue, Layla mordera o homem e logo em seguida saíra correndo. O senhor gritava de dor e o cenário ao redor de Layla parecia mudar se tornando agora uma casa elegante e aparentemente muito cara, sentados em tronos de ouro estavam seus pais, eles sorriam para a mulher e ela corria para cima deles, queria lhes abraçar, mas assim que chegou perto de seu pai foi parada por sua mão.
-- Por favor, querida, não me toque, sabe como enojo o cheiro da plebe. – A voz de seu pai era afetada e metida, como se ele fosse melhor do que ela em tudo.
A sua mãe apenas virou o rosto para a filha: -- Agora saia daqui, já a vendemos, não precisamos de mais nada que venha de você...
Layla ficou desesperada, chorava mais ainda e todo o palácio ao seu redor desapareceu, ficando apenas escuridão, o único som que tinha ali era do piscar que a esfera de ferro ainda fazia, mas Layla não ouvia isso pelo som das suas lágrimas que eram mais altas. Ela não percebeu, mas alguma coisa corria ao redor dela, era um vulto de coloração acinzentada, trazia nas costas um par de asas parecidas com asas de libélula.
-- Porque choras criança? – A voz perguntou e seu tom era sombrio e frio, mas sedutor e até mesmo confortável.
Layla se levantou, olhou ao seu redor, mas não havia nada a não ser sombras.
-- Quem está aí? – Ela perguntou.
E o vulto se personificou na sua frente. Era uma donzela, uma linda fada. Por um momento Layla se sentiu bem, queria abraçar aquela na sua frente, queria chorar em seus braços, mas não tinha forças nem mesmo pra se levantar. Não entendia o que estava acontecendo, mas ser esnobada por seus pais e ver seu amado sendo morto na sua frente era demais para ela, para ela que viveu a vida tão tranqüila, longe do caos da cidade grande, longe da violência do mundo, agora estava passando por isso... Por quê? Por quê?
-- Eu posso lhe ajudar... – Disse a fada na sua frente estendendo a delicada mão.
Layla olhou para aquela mão na sua frente, pelo ao menos naquele momento alguém estava lhe ajudando, seus pais a traiu, seu amado não poderia ajudar, nem mesmo Hanami, que já tinha um local em seu coração por ser tão gentil não estava ali.
-- Só quero uma coisa em troca...
Layla olhou bem para aquela fada.
-- Continue sonhando que logo tudo irá melhorar...
Layla olhou para ela... era coisa simples de se pedir e que ela poderia fazer tranquilamente, desesperada a sacerdotisa levantou sua mão, estava para tocar a da outra, quando um som forte saiu da esfera de ferro.
--- PERIGO! PERIGO! --- Era uma voz fina, mas robótica, e da esfera uma grande luz explodiu no meio daquelas sombras, fazendo Layla e até mesmo a fada fechar os olhos...
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