quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Kaze e Mizu / Ar e Água

O vento soprava agradável, nele havia um gosto salgado, um gosto marinho, um gosto de praia.

Voando alegremente sobre as areias de uma praia em Lafaza estava Kaze, Oráculo do vento e mensageira dos deuses, dizem que receber a visita dessa arcanjo pode ser um momento de muita alegria ou muito terror, mas que até mesmo a pior noticia, quando saída pelos lábios da mesma são doces e acolhedoras.

Kaze havia acabado de ajudar um pescador que estava perdendo sua família para forças obscuras e sinistras, quando os deuses não precisavam dela era isso que ela fazia, saia por Gensõ ajudando aqueles que mereciam sua ajuda.
A bela arcanjo sorria enquanto flutuava levemente a centímetros próxima à areia da praia. O som dos pássaros e das ondas do mar trazia aquela sensação tranqüila de um típico fim de tarde no continente das águas.
Em um momento Kaze sorria.
No outro momento não sorria mais.
Houve uma sensação, algo apertara seu peito tão profundamente, como se a arcanjo tivesse o arrancado com as próprias mãos, suas asas falharam por alguns segundos e ela tocou os pés no chão, raramente fazia isso. Foi apenas por alguns segundos e ela voltara a flutuar...
-- Deuses... O que foi isso? – A arcanjo olhou para além-mar, para um local onde ninguém mais poderia olhar e entendeu o que havia acontecido.
Kaze colocou a mão no peito, fechou os olhos e enquanto estava perdida em orações, o mar se aproximou dela.
De dentro das águas uma cabeça, depois um tronco, e por ultimo pernas. Era um homem forte e muito bonito, tinha algumas escamas pelo corpo completamente nu, as águas parecia ainda correr ao redor daquele corpo, como se o protegesse, ou talvez fossem protegidas por ele. Era Mizu, o Oráculo das águas, rei de todo reino submarino.

-- Não adianta pedir ajuda a eles... Sabe que eles não podem fazer nada... – O sereiano falou. – Matar ele? Eles não são tolos... Sabem que isso também prejudicaria o equilíbrio.
Kaze abriu os olhos e viu aquele belo ser na sua frente.
-- Mizu... Você... Você também sentiu? Também viu?
O belo homem virou-se para o mar, na mesma direção em que Kaze olhara outrora e suspirou profundamente:
-- O mesmo erro de Kaen... A mesma ambição... Mas dessa vez foi um pouco mais longe.
A arcanjo voara para perto de Mizu.
-- Ele é novato, devíamos ajudá-lo, não podemos ficar parados...
-- Ajudá-lo? Ele é novato sim, Kaze, mas já conhecemos Denkõ o suficiente para saber que ele não vai nos ouvir... Está cego... – Mizu virava-se para a arcanjo, fitara profundamente seus olhos. – Ele virá atrás de nós também... De todos nós...
Kaze colocara a mão no rosto, espantada:
-- Isso é loucura! Ele não vai ganhar nada com isso...
-- Na cabeça dele ele se tornará rei nesse mundo, a mesma coisa que Kaen pensou naquela vez...
-- Mas Kaen viu seu erro, foi perdoado... Se ele matasse qualquer um de nós o equilíbrio ia se desfazer, íamos voltar aos tempos antes mesmo à Era de Kalah, os tempos em que nós Oráculos não passávamos de elementos descontrolados, caóticos e selvagens. Ele não vai querer um mundo assim, nem mesmo os deuses vão querer... Então em vez de ajudar teremos que fazer alguma coisa contra ele...
Mizu riu. Sabia de tudo aquilo, mas Kaze sempre fora assim, colocava as coisas que pensava para fora sem medir suas palavras antes.
-- Ele é novato... – Disse o homem. – Se diz o mais sábio de nós, mas nem toda sabedoria derruba nossa experiência. Ele não tem fé, não tem um objetivo próprio, apenas ambição, uma ambição desenfreada. Mas podemos entender ele Kaze, ele é como um raio, cai do céus em linha única, em busca de um único objetivo e quando atingi esse objetivo o que faz? Destrói...

A expressão de Kaze era o que Mizu esperava... Ela entendeu o que ele quis dizer, assim como Kaen fora perdoado por ser o próprio fogo, Denkõ também poderia ser perdoado por ser a própria energia...
A arcanjo colocara as delicadas mãos no rosto, estava envergonhada, quase julgara Denkõ, mas estava assustada, não sabia ao certo o que ele era, todas aquelas máquinas que apareceram junto a ele, toda aquela... Tecnologia... Aquilo era ruim, mas não eram demônios, ela sabia bem disso, já derrotara inúmeros demônios, mas aquilo era apenas... Mau... E isso a assustava... Assustava-a por não saber o que era aquilo, quem era ele...

-- Perdão... – Ela disse após se recompor de seus pensamentos.
Mizu apenas se virou para o mar, olhando novamente para o local que só eles conseguiam ver.
-- Não é a mim que você deve pedir perdão...
Kaze apenas balançou a cabeça.
-- Mas Mizu... Estou... Assustada...
-- Todos estamos... Principalmente Chihyõ... Denkõ foi esperto... Atingiu primeiro aquele que menos tem contato com a tecnologia dele, a mais vulnerável... Mas diga-me Kaze... O que você faria se soubesse que está morrendo? Que esse seu corpo físico estava morrendo?

-- Somos imortais... Nunca pensei nisso... Mas parando agora... Ia ser um verdadeiro caos, os ventos ficariam incontroláveis, aquilo que eu falei... Voltaríamos à nossa forma selvagem...
-- Exatamente... – Mizu tocava o próprio braço. – Esses corpos são apenas receptáculos, garrafas vazias para prender os elementos selvagens dentro deles, se os elementos fugissem...
-- ... Faríamos um novo receptáculo para prendê-los... – Completou Kaze.
Mizu balançou a cabeça concordando:
-- Chihyõ pensou nisso... Nem tudo está perdido... – Mizu olhou para a Árvore da vida, ao lado da arvore, criada pelos cabelos de Chihyõ, estava uma pequena muda nascendo, protegida pela própria arvore ao seu lado que estava morrendo.

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