segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Amor e Honra - Parte 1- Uma garota honrada

Naquela manhã houve celebração em Solasel, a capital de Darcael, o continente da terra.
O continente abençoado pela deusa Liaavel não poderia ser conhecido por outra coisa a não ser pela sua honra em batalhas e suas vitórias incontáveis. Essas vitórias vinham por um grupo de fortes e honrados guerreiros...
Os samurais.

E era isso que aquela cidade comemorava naquela manhã. Para se tornar um samurai, além de ter a honra no sangue, o rapaz deveria ter que passar por provações e mostrar que era digno de ser um guerreiro de Liaavel, a deusa da guerra.
Na escola de samurais, nessa manhã, mais um grupo de jovens se tornavam guerreiros.
Mas entre aqueles dedicados e viris homens havia uma coisa estranha, havia um rosto delicado e bonito, digno de uma gueixa. Era Hanami, uma mulher...

As bocas pequenas daquela cidade comentavam e julgavam por baixo dos panos aquela que apenas tentou honrar sua família. Julgavam aquela mulher sentada entre homens, vestida como homens. Mulheres não deviam se prestar aquele papel...
Hanami era uma exceção. Filha de uma família de linhagens de samurais, a mulher fora filha única, filha única de uma geração. Nem irmãos, nem mesmo primos, apenas ela. O peso da honra de seus ancestrais sobre seus ombros, e em Darcael, nada vale mais do que a honra.
A bela mulher de longos cabelos pretos pacientemente aceitou aquilo, na verdade, em seu coração era o que ela realmente queria. Se tornar uma guerreira, levar honra ao seu velho pai e a sua falecida mãe, esse era seu objetivo, mas graças às pessoas que a olhavam agora todas as dificuldades que passara parecia não valer à pena.
O pai de Hanami, um famoso samurai da Imperatriz Megumi, ensinou à filha tudo que sabia, mostrou o poder de um verdadeiro samurai e acima de tudo sua honra inabalável, tinha esperança de que a mulher aprendesse com ele para não precisar entrar naquela escola, pois ele sabia as dificuldades que ela passaria...
As flores de cerejeira enfeitavam aquele local, era típico de Solasel ver aquelas belas flores em comemorações, algumas pessoas dizem que a própria deusa quando estava feliz enfeitava sua cidade com essas flores.

Mesmo em meio a burburinhos as pessoas estavam impecáveis, assim era o continente da terra, mesmo em uma guerra aquelas pessoas não se deixavam rebaixar-se, eram sempre aristocráticos, elegantes, mas nem sempre confiáveis...
Na cadeira da frente se encontrava o pai de Hanami, agora um velho senhor, antes empunhava uma bela espada, agora um cajado o segurava. Mas ele estava ali, com aquele sorriso largo no rosto cheio de rugas. Para Hanami, aquele sorriso fez com que sentisse que tudo que ela passou valesse mesmo à pena.
-- Seu pai está feliz... – Disse um belo rapaz próximo ao ouvido de Hanami, um rapaz que provavelmente faria o coração de uma jovem disparar, um típico Darcaeliano, podia-se sentir sua elegância e virilidade à distância. Um homem que deveria ser lindo empunhando uma espada em nome de Liaavel.

O rosto de Hanami se fazia vermelho naquele momento, era fácil se controlar perto dos outros homens naquela escola, conseguia ficar calma e não pensar em outras coisas, mas assim que aquele homem entrou na escola as coisas foram mais difíceis. Eram calores diferentes, sentimentos diferentes, palavras gaguejadas e pensamentos que ela considerava impuros. – Parece que sim Daisuke, valeu realmente todo meu esforço. – Ela apenas soltava uma tímida risada.
-- Um dia lutaremos juntos em nome de Liaavel, nesse dia, para mim valerá todo meu esforço.
O rosto de Hanami ficava mais vermelho ainda. Daisuke era perfeito, falava sempre as coisas certas, sempre as coisas certas para lhe deixar sem graça, um verdadeiro cavalheiro.
Um senhor subiu o pequeno palco onde os recém-formandos estavam, todos se sentaram de forma elegante e aqueles à sua frente fizeram um silêncio profundo e aparentemente infinito, o que acalmou o coração de Hanami, não agüentava mais ter que esconder sua raiva pelos seus julgadores.
-- Senhores pais, filhos, amigos... Hoje Liaavel sorri pelos seus novos filhos que nascem, seus novos guerreiros honrados e poderosos, que estarão presentes para lutar e acima de tudo, morrer pela deusa e por seu continente...
Houve um conjunto rítmico de palmas leves e organizadas e as flores de cerejeira pareciam cair mais devagar, deixando o local mais calmo, mais confortável.
A comemoração passava e o senhor que falava a frente, o diretor daquela escola, presenteou cada um com um cordão tendo nele o símbolo de Liaavel, as duas katanas cruzadas, assim que Daisuke recebera seu colar foram suspiros e lágrimas orgulhosas entre as pessoas que assistiam, mas assim que Hanami recebera fora rostos tortos e mais palavras à boca pequena, mas mesmo a ponto de explodir não se deixou transparecer.

Após a celebração Hanami caminhava até seu pai, ela chegou à sua frente e fez uma singela reverencia e ele acenou em resposta, era tudo tão formal, mas aquela formalidade fora quebrada quando a mulher abraçou seu pai, havia ouvido julgamentos demais naquela manhã, se alguém falasse mais alguma coisa não iria lhe perturbar.
-- Hohoho! Veja só, minha menina, uma samurai, sua mãe estaria tão orgulhosa... – Disse o pai de Hanami.
A samurai olhou para o céu enfeitado por pétalas rosadas.
-- Sei disso papai, sei que ela estaria muito feliz. – E Hanami sorriu como se pudesse ver sua mãe.

-- Vamos para casa minha filha, hoje você merece um bom descanso...
Hanami e seu pai caminharam devagar até em casa, embora fosse moderadamente rico, o pai de Hanami costumava fazer caminhadas, achava que um ex-guerreiro de Liaavel jamais deveria deixar-se ganhar pela preguiça.
Ambos caminharam em silêncio, um ao lado do outro, Hanami estava realmente cansada.
Enquanto andavam pelas ruas Hanami notava as pessoas apontando e olhando feio para ela, cada rosto torto, cada dedo apontado para ela fazia seu coração sangrar, era pior que morte, sentia-se suja. Não era proibido mulheres serem samurais, mas era raro, e agora Hanami sabia o porque...
-- Pai... Não sei se vou agüentar muito tempo as acusações que o nosso povo faz a mim...
-- Acusações minha filha? – O senhor sabia do que a filha estava falando, mas decidiu se fingir de desentendido.
-- Dizem a mim que mulheres não deviam ser guerreiras, que apenas Liaavel deveria ser a mulher guerreira, que homens deveria lutar em nome dela, não mulheres...
Seu pai sorriu e falou:
-- Você sabia que isso aconteceria...
-- Não que seria tão ruim assim, pai, juro que pensei em executar o seppuku*, matar-me honradamente para ir pura para ao lado de Liaavel.
-- Sabe que isso não seria uma morte pura nessas condições...
-- Por isso ainda não o executei... Irei agüentar, isso é uma provação...
Foi só Hanami terminar de falar que uma senhora olhou-a de rosto torto, virando o rosto como se a samurai fosse um desastre.
Hanami se escondeu entre as mãos...
Ambos chegaram em casa, cada um foi para seu quarto descansar, o sol ainda brilhava no céu, por isso Hanami não conseguira dormir então foi para sua janela, olhar o movimento da rua lá fora, na hora que abrira a janela um grupo de senhores a olhou e um deles cuspiu no chão. Isso foi a gota d´agua, estava orgulhosa por ter se tornado aquilo que sempre desejara, mas não aguentaria o julgamento de desconhecidos, era quase como se ela fosse uma mulher desonrada, mesmo sabendo que ela não era. Hanami pegou sua Katana e sua Wakizashi, foi até a sala e pegou um pincel e em belos katakanas deixou uma mensagem:

“A deusa que me perdoe papai, mas irei partir... Levarei o nome da deusa em outros cantos, uma deusa real, que não julgaria um guerreiro pelo seu sexo, mas sim pela sua honra...”
e após escrever a carta... Saiu de casa...

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