quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Sarah - Capítulo 1 - Mudanças

Todos sabem dos problemas que assolam o reino espiritual de Daekor. Por isso os outros lugares tentam ajudá-lo.
Drimlaê fora o único continente que faltava ajudar. Após algumas conversas na corte, Tyrus, o rei bobo, finalmente concordou em se juntar à ajuda.
Mas nada que venha de Tyrus é normal ou comum. Ele ajudou, mas uma pessoa pagou o peço. Essa que pagara o preço fora Sarah, a rainha.
Enviada para comandar um batalhão, a mulher fora, mesmo com muito medo e pouca experiência, porque é isso que as mulheres devem fazer...
Apenas obedecer...
Será mesmo?

...
O palácio do Bobo, o grande castelo do rei Tyrus era triste naquela manhã. A notícia do recrutamento forçado da rainha ao grupo de guerrilheiros enviados à Daekor se espalhou rapidamente. Os ventos mágicos e fofoqueiros do continente inteiro não sussurravam outra coisa.
A notícia chocou parte da população de Shufu, a capital. A outra parte menos chocada estava indignada, mas já esperavam tal atitude de Tyrus. Os grupos formavam rebeliões para derrubar os portões do castelo ou mesmo para derrubar o próprio rei.
-- Ele é um traidor! – Gritava um homem na porta do castelo segurando placas com palavras baixas contra o rei. – Ele vai trair todos nós! – Os dois guardas com enormes escudos apenas observavam em silêncio.

O homem não estava só. Haviam crianças, mulheres e muitos outros homens de várias raças.
Havia barulho, ira, palavras baixas e violência.
Tudo pela rainha Sarah.
Mas aquela não era a forma de Sarah, ela não era violenta, não falava aquelas palavras. Ela era uma rainha, uma rainha perfeita.

Enquanto os soldados reais se chocavam com os cidadãos na porta do castelo, Sarah os observava. Seus lindos olhos azuis pareciam ainda mais o mar agora que estavam molhados por suas lágrimas de tristeza. A rainha fecha as cortinas tentando anular o som que vinha de fora, mas era impossível. 
A bela mulher voltou-se para a cama, o local onde antes ficava cheio de ursos de pelúcia e cartas de seus súditos agora tinha armas, as melhores armas que o dinheiro podia comprar.
Havia armas de todos os tipos e Sarah deveria escolher uma delas, armas para se proteger e machucar.
Aquilo era surreal, ela era uma rainha e não uma guerreira.  A mulher respirou profundamente e lembrou-se do motivo de estar lutando. Tinha que representar seu continente na guerra, não queria que os seus fossem chamados de covardes. Outras nações poderiam levar isso a sério e a guerra se voltaria para Shufu.
Sarah queria evitar isso.
Enquanto a mulher olhava as armas, tentando imaginar-se com alguma dela em mãos, a porta de seu quarto fora aberta.
Do outro lado, Tyrus.
Rei, marido e bobo.

O rei tinha em mãos uma espada bonita e colorida, era feita de outro e tinha pedras que pareciam fazer suas cores dançarem.
O homem entrou no quarto na ponta dos pés, dançando ridiculamente, um rei com modos de palhaço.
-- Bom dia, minha forte guerreira. – Ele ria da própria piada.
Sarah fazia uma cordial reverência e logo virava o rosto.
-- Eu lhe trouxe um presente.
A rainha olhava para as armas em cima da cama, quando Tyrus, levantando os lençóis, derrubou todas nos chão.
-- Essa é a arma que você vai escolher! – Ele coloca a bela espada sobre a cama.
-- Essa? – Sarah a fita bem. – Por quê?
-- Porque essa espada é forte! Digna de lordes e reis... E você... – Ele fez uma pausa a olhando. --... Você não é!
Ambos se entreolham por alguns segundos.
-- É a ironia, minha querida! – Tyrus pega a espada e coloca nas mãos de Sarah. – Com essa espada você cumprirá seu destino.
E desajeitada ela pega a espada, que antes dourada, quando tocada pela rainha se torna colorida.

Tyrus sorri e seu sorriso era largo e assustador, então o rei sai como entrou, dançando ridiculamente.
Sarah olha a espada, era realmente muito bonita, um desperdício jogando-a em suas mãos inexperientes. Mas a mulher apenas obedeceu.
A rainha aproximou-se de uma gaveta em sua penteadeira, puxou-lhe e tirou de lá um livro de capa infantil e esverdeada.
Era seu diário.
Folheou algumas páginas rindo de boas lembranças e finalmente chegou nas páginas brancas. Após colocar a data, Sarah escreveu:
“Esse foi o dia que eu deixe ser apenas uma rainha e me tornei uma guerreira.”

...
Os sons na porta do castelo finalmente cessaram e depois de merecido descanso Sarah se encontrava ao batalhão que ia com ela. Eram jovens e inexperientes, se fosse possível, talvez mais do que ela. Havia alguns com aparência real de aventureiros, mas a rainha duvidava se eram mesmo bons guerreiros. Os bons já haviam ido para a guerra, aqueles que sobravam eram os indignos ou fracos.
-- Boa noite, cidadãos! Estou feliz que estejam aqui! – Começou Sarah. Os guerrilheiros gritavam para ela, mas não gritos de soldados, mas gritava por Sarah ser um ídolo. – Não tenham medo, pois os deuses estão conosco! – E houve mais gritos.
O batalhão saiu pelos portões da frente. Não havia mais de 50 pessoas, era um fato, aqueles que assistiam a saída do grupo, ou choravam ou desejavam sorte ainda revoltados com a situação da rainha.
Montada em um cavalo branco, Sarah acenava. Choraria ali mesmo, arrependia-se de ter dado essa ideia, mas ela era uma rainha e rainhas não se arrependiam, não voltavam atrás. E como uma verdadeira rainha, segurou as lágrimas e manteve o sorriso tranquilizador nos lábios.
Do alto da torre mais alta do Castelo do Bobo, Tyrus observava. Seus lábios faziam o sorriso assustador, mas seus olhos eram distantes, tristes...
“Que ela ironicamente vença algo, para a honra de Tyali” Ele pensava.

...
O grupo havia cavalgado por algumas horas. Iriam para uma ponta a leste de Drimlaê e lá pegariam teleportes para algum lugar de Daekor, onde suas batalhas começariam.
Tyrus prometeu àqueles que seguiam Sarah, fama e riquezas e ali havia corações ambiciosos, mas todos eram acima de tudo fieis à rainha que tanto amavam.
A paisagem era outra, antes a cidade lotada e barulhenta, agora uma gigante trilha de areia. De um lado um rio corria calmo e silencioso, era protegido por um cercado feito por toras de madeira e arame farpado. Do outro lado um pequeno bosque, onde se podia ouvir o som das corujas. A luz era quase invisível, sendo apenas uma linha brilhosa.

-- Vamos descansar! – Disse a rainha parando seu cavalo, seguida dos outros.
-- Tem certeza Majestade? – Aproximou-se um dos cavaleiros puxando também o cavalo. -- Tyrus nos ordenou ir direto a Daekor.
-- Eu sei cavaleiro. – Ela ficava sem graça por estar desobedecendo a ordem do rei, mesmo fora de sua presença, mas as pessoas estavam cansadas e sem forças de ir adiante. Alguns minutos de descanso não fariam diferença.
...
Fizeram uma grande fogueira, alguns dormiram no mesmo instante em que se sentaram, outros se perguntavam se valia mesmo a pena saírem do conforto de seus lares para estarem ali.
-- Sinto muito, Majestade. – Dizia o mesmo cavaleiro se aproximando.
-- Qual seu nome? -- Perguntava Sarah enquanto cortava alguns cogumelos para comer.
-- Jensen, Majestade.
-- Cavaleiro Jensen... -- Sarah sorria docemente. – porque sente muito?
Jensen ficava corado pela doçura de Sarah. A rainha tinha esse poder sobre homens, mulheres e crianças... Uma aura doce e carismática.
O cavaleiro piscava seus olhos castanhos e passava a mão em seus cabelos curtos e marrons.

-- Você não combina com esse local... – Ele dizia se recompondo. – Por isso eu sinto muito...
-- Agradeço a preocupação, cavaleiro Jensen... Mas esse é o meu dever, afinal de contas. – Seu olhar era responsável, porém triste.
Houve um pouco de silêncio quando Jensen virou-se novamente para a rainha.
-- Você realmente ama o rei?
O rosto de Sarah era de surpresa, fora pega desprevenida, ninguém nunca perguntara isso.
-- Ele é o rei, não é? – Ela disse. – Todos o amam.
-- Perdoe-me Majestade, mas não confunda respeito com amor. – Jensen tira do bolso um delicado colar e o entrega para Sarah. – Amor é o que sentimos por você. – Então se afasta.
A rainha sorri olhando Jensen e vê o colar. É um colar de prata, com um pingente de uma bela coroa feminina.
Sarah põe o colar no pescoço e adormece um pouco feliz.

...
Barulho, balbúrdia...
O som dos soldados correndo e gritando era ouvido por Sarah. A rainha levanta-se para ver seus súditos jogados no chão, muitos mortos.
Estava tendo uma batalha, Sarah virou-se e pegou sua espada colorida, mas não sabia nem mesmo segurá-la direito.
-- Majestade! Majestade! – Gritava Jensen tentando protegê-la.
Algo rápido pulou das árvores, batendo na cabeça de Sarah, não podia-se ver nada pelo escuro.
A mulher começou a desmaiar, antes de sua visão escurecer completamente pôde ver algo...
... A cabeça de Jensen sendo cortada fora.

Continua...

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