Drimlaê fora o único continente que faltava ajudar. Após
algumas conversas na corte, Tyrus, o rei bobo, finalmente concordou em se
juntar à ajuda.
Mas nada que venha de Tyrus é normal ou comum. Ele ajudou,
mas uma pessoa pagou o peço. Essa que pagara o preço fora Sarah, a rainha.
Enviada para comandar um batalhão, a mulher fora, mesmo com
muito medo e pouca experiência, porque é isso que as mulheres devem fazer...
Apenas obedecer...
Será mesmo?
...
O palácio do Bobo, o grande castelo do rei Tyrus era triste
naquela manhã. A notícia do recrutamento forçado da rainha ao grupo de
guerrilheiros enviados à Daekor se espalhou rapidamente. Os ventos mágicos e
fofoqueiros do continente inteiro não sussurravam outra coisa.
A notícia chocou parte da população de Shufu, a capital. A
outra parte menos chocada estava indignada, mas já esperavam tal atitude de
Tyrus. Os grupos formavam rebeliões para derrubar os portões do castelo ou
mesmo para derrubar o próprio rei.
-- Ele é um traidor! – Gritava um homem na porta do castelo
segurando placas com palavras baixas contra o rei. – Ele vai trair todos nós! –
Os dois guardas com enormes escudos apenas observavam em silêncio.
O homem não estava só. Haviam crianças, mulheres e muitos
outros homens de várias raças.
Havia barulho, ira, palavras baixas e violência.
Tudo pela rainha Sarah.
Mas aquela não era a forma de Sarah, ela não era violenta, não
falava aquelas palavras. Ela era uma rainha, uma rainha perfeita.
Enquanto os soldados reais se chocavam com os cidadãos na
porta do castelo, Sarah os observava. Seus lindos olhos azuis pareciam ainda
mais o mar agora que estavam molhados por suas lágrimas de tristeza. A rainha
fecha as cortinas tentando anular o som que vinha de fora, mas era impossível.
A bela mulher voltou-se para a cama, o local onde antes
ficava cheio de ursos de pelúcia e cartas de seus súditos agora tinha armas, as
melhores armas que o dinheiro podia comprar.
Havia armas de todos os tipos e Sarah deveria escolher uma
delas, armas para se proteger e machucar.
Sarah queria evitar isso.
Enquanto a mulher olhava as armas, tentando imaginar-se com
alguma dela em mãos, a porta de seu quarto fora aberta.
Do outro lado, Tyrus.
Rei, marido e bobo.
O rei tinha em mãos uma espada bonita e colorida, era feita
de outro e tinha pedras que pareciam fazer suas cores dançarem.
O homem entrou no quarto na ponta dos pés, dançando
ridiculamente, um rei com modos de palhaço.
-- Bom dia, minha forte guerreira. – Ele ria da própria
piada.
Sarah fazia uma cordial reverência e logo virava o rosto.
-- Eu lhe trouxe um presente.
A rainha olhava para as armas em cima da cama, quando Tyrus,
levantando os lençóis, derrubou todas nos chão.
-- Essa é a arma que você vai escolher! – Ele coloca a bela
espada sobre a cama.
-- Essa? – Sarah a fita bem. – Por quê?
-- Porque essa espada é forte! Digna de lordes e reis... E você... – Ele fez uma pausa a olhando. --... Você não é!
Ambos se entreolham por alguns segundos.
-- É a ironia, minha querida! – Tyrus pega a espada e coloca
nas mãos de Sarah. – Com essa espada você cumprirá seu destino.
E desajeitada ela pega a espada, que antes dourada, quando tocada pela rainha se torna colorida.
Tyrus sorri e seu sorriso era largo e assustador, então o
rei sai como entrou, dançando ridiculamente.
Sarah olha a espada, era realmente muito bonita, um desperdício
jogando-a em suas mãos inexperientes. Mas a mulher apenas obedeceu.
A rainha aproximou-se de uma gaveta em sua penteadeira,
puxou-lhe e tirou de lá um livro de capa infantil e esverdeada.
Era seu diário.
Folheou algumas páginas rindo de boas lembranças e
finalmente chegou nas páginas brancas. Após colocar a data, Sarah escreveu:
...
Os sons na porta do castelo finalmente cessaram e depois de
merecido descanso Sarah se encontrava ao batalhão que ia com ela. Eram jovens e
inexperientes, se fosse possível, talvez mais do que ela. Havia alguns com aparência
real de aventureiros, mas a rainha duvidava se eram mesmo bons guerreiros. Os
bons já haviam ido para a guerra, aqueles que sobravam eram os indignos ou
fracos.
-- Boa noite, cidadãos! Estou feliz que estejam aqui! –
Começou Sarah. Os guerrilheiros gritavam para ela, mas não gritos de soldados,
mas gritava por Sarah ser um ídolo. – Não tenham medo, pois os deuses estão
conosco! – E houve mais gritos.
O batalhão saiu pelos portões da frente. Não havia mais de
50 pessoas, era um fato, aqueles que assistiam a saída do grupo, ou choravam ou
desejavam sorte ainda revoltados com a situação da rainha.
Montada em um cavalo branco, Sarah acenava. Choraria ali
mesmo, arrependia-se de ter dado essa ideia, mas ela era uma rainha e rainhas
não se arrependiam, não voltavam atrás. E como uma verdadeira rainha, segurou
as lágrimas e manteve o sorriso tranquilizador nos lábios.
Do alto da torre mais alta do Castelo do Bobo, Tyrus
observava. Seus lábios faziam o sorriso assustador, mas seus olhos eram distantes,
tristes...
“Que ela ironicamente vença algo, para a honra de Tyali” Ele
pensava.
...
O grupo havia cavalgado por algumas horas. Iriam para uma
ponta a leste de Drimlaê e lá pegariam teleportes para algum lugar de Daekor,
onde suas batalhas começariam.
Tyrus prometeu àqueles que seguiam Sarah, fama e riquezas e ali
havia corações ambiciosos, mas todos eram acima de tudo fieis à rainha que
tanto amavam.
A paisagem era outra, antes a cidade lotada e barulhenta,
agora uma gigante trilha de areia. De um lado um rio corria calmo e silencioso,
era protegido por um cercado feito por toras de madeira e arame farpado. Do
outro lado um pequeno bosque, onde se podia ouvir o som das corujas. A luz era
quase invisível, sendo apenas uma linha brilhosa.
-- Vamos descansar! – Disse a rainha parando seu cavalo,
seguida dos outros.
-- Tem certeza Majestade? – Aproximou-se um dos cavaleiros
puxando também o cavalo. -- Tyrus nos ordenou ir direto a Daekor.
-- Eu sei cavaleiro. – Ela ficava sem graça por estar
desobedecendo a ordem do rei, mesmo fora de sua presença, mas as pessoas estavam cansadas e sem forças de ir adiante. Alguns minutos de descanso não fariam diferença.
...
Fizeram uma grande fogueira, alguns dormiram no mesmo
instante em que se sentaram, outros se perguntavam se valia mesmo a pena saírem
do conforto de seus lares para estarem ali.
-- Sinto muito, Majestade. – Dizia
o mesmo cavaleiro se aproximando.
-- Qual seu nome? -- Perguntava Sarah
enquanto cortava alguns cogumelos para comer.
-- Jensen, Majestade.
-- Cavaleiro Jensen... -- Sarah
sorria docemente. – porque sente muito?
Jensen ficava corado pela doçura
de Sarah. A rainha tinha esse poder sobre homens, mulheres e crianças... Uma
aura doce e carismática.
O cavaleiro piscava seus olhos
castanhos e passava a mão em seus cabelos curtos e marrons.
-- Você não combina com esse
local... – Ele dizia se recompondo. – Por isso eu sinto muito...
-- Agradeço a preocupação,
cavaleiro Jensen... Mas esse é o meu dever, afinal de contas. – Seu olhar era responsável,
porém triste.
Houve um pouco de silêncio quando
Jensen virou-se novamente para a rainha.
-- Você realmente ama o rei?
O rosto de Sarah era de surpresa,
fora pega desprevenida, ninguém nunca perguntara isso.
-- Ele é o rei, não é? – Ela disse.
– Todos o amam.
-- Perdoe-me Majestade, mas não
confunda respeito com amor. – Jensen tira do bolso um delicado colar e o
entrega para Sarah. – Amor é o que sentimos por você. – Então se afasta.
A rainha sorri olhando Jensen e vê
o colar. É um colar de prata, com um pingente de uma bela coroa feminina.
Sarah põe o colar no pescoço e adormece
um pouco feliz.
...
Barulho, balbúrdia...
O som dos soldados correndo e
gritando era ouvido por Sarah. A rainha levanta-se para ver seus súditos
jogados no chão, muitos mortos.
Estava tendo uma batalha, Sarah
virou-se e pegou sua espada colorida, mas não sabia nem mesmo segurá-la
direito.
-- Majestade! Majestade! – Gritava
Jensen tentando protegê-la.
Algo rápido pulou das árvores,
batendo na cabeça de Sarah, não podia-se ver nada pelo escuro.
A mulher começou a desmaiar, antes
de sua visão escurecer completamente pôde ver algo...
Continua...
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