A notícia de que Sarah iria falar oficialmente com Layllian
voou quando Joy contou À rainha. Era quase meio-dia e o sol pendia forte e
poderoso no meio do céu.
As amazonas estavam no meio da aldeia, pararam seus
trabalhos e estavam ansiosos, todas sabiam da visão de Joy, todas sabiam que
Sarah seria sua nova rainha.
E lá vinha ela...
Sarah era uma mulher submissa e aparentemente fraca, mas era
decidida e certa de suas escolhas e sempre agia de seu modo... Quando podia
agir...
Havia uma pequena elevação, e sobre essa elevação uma tenda
grande e rodeada por lanças cravadas na terra com pontas para cima. Sua entrada
estava sempre fechada e sobre ela o símbolo de uma deusa antiga e feminista.
Uma viúva-negra.
Havia um longo tapete feito de pele de lobo-das-cavernas,
que corria por quase cinco metros de sua entrada.
Sarah finalmente pisou no tapete, sentia não o macio do pelo,
ou o calor do sol. Sentia que sua vida mudaria.
Para melhor.
A entrada da grande tenda fora aberta, de dentro dela saíra
Sam. Seus músculos pareciam ainda maiores e seu rosto era eternamente sério e
furioso.
Sarah estava no meio do tapete, sentira medo, pensou em
voltar, mas assim que deu um passo para trás sentira a mão de Joy em suas
costas.
Então caminhou para frente.
Sarah adentrou a tenda sob o olhar odioso de Sam e o sorriso
de Joy.
...
Havia uma grande mesa. Sobre a mesma, um mapa antigo com
vários botões em cima. Sarah não percebeu, mas os botões representavam a guarda
de proteção das amazonas.
Havia vasos, cadeiras e uma cama no canto. Cabiam, talvez,
dez ou doze guerreiras. Sentada de um lado da mesa estava Layllian.
A rainha amazona parecia calma, mas totalmente majestosa.
Uma majestade muito superior a que Sarah aparentava naquele momento. Talvez
pela amazona estar no seu lugar e ela não.
-- Rainha Sarah... – Layllian sorriu e levantou-se.
Sarah fez uma reverencia digna de uma rainha.
-- Creio que não seja necessário tanta formalidade.
Sarah continuou em silencio.
-- Você aceitou... Isso é bom, mas não suficiente. –
Layllian levantou-se e aproximou-se à outra. – Sarah... Você tem certeza disso?
Os olhos das rainhas se encontraram.
-- Não... Não tenho certeza... – Disse Sarah. – Mas decidi
arriscar... Para sentir... A liberdade...
Layllian sorriu, via tanto de si na outra.
Abraçou-a e ambas saíram da tenda. As amazonas olhavam para
as duas rainhas, quando Layllian acenou e fora seguida por palmas.
Apenas uma mulher não bateu palma. Sam.
A grande e robusta mulher colocou a mão no ombro de Layllian
e acenou, a rainha entendeu e a acenou de volta.
...
Sarah era realmente uma rainha diplomática, em uma tarde
conheceu muitas das amazonas e resolveu muitos de seus problemas, tornando-se
popular rapidamente.
Cada mulher que conhecia, conhecia historias diferentes. Passados
assustadores, marcados por tristezas e dramas, mas mulheres fortes o suficiente
para superar qualquer dificuldade.
Por algum motivo sentia-se bem ali. Sentia-se importante.
-- Ufa! Que canseira! – Dizia Sarah sentando-se embaixo de
uma árvore. O sol estava agradável, e os ventos, como em toda Drimlaê, pareciam
mágicos.
-- Difícil ser rainha? – Perguntou Joy, a elfa, também sentando.
-- Eu sempre fui rainha, Joy... – Sarah a olhou seria, mas
depois sorriu. – Mas só agora estou sentindo realmente o que é ser. – A mulher
sorriu mais, mas agora era para si mesma. – Eu sempre fui para festas, sempre
estive lá, sorrindo e acenando docemente. Mas nunca realmente conversava com as
pessoas, nunca soube de seus problemas, nem mesmo tive a chance de resolver e
me sentir importante.
Sarah levantou-se animada, ficando de joelhos.
-- Joy... Aprendi coisas com essas amazonas que se Tyrus
tivesse esse conhecimento poderia ajudar não só elas... Mas Drimlaê inteira!
A elfa sorriu, era como se Sarah pudesse ser ela mesma.
A outra se voltou a sentar e olhou a elfa.
-- Joy... Uma coisa que notei que quase todas as amazonas
tem em comum são problemas com homens. Mas você não teve né?
O rosto de Joy entristeceu um pouco.
-- Na verdade tive sim... – Ela olhou para o céu e começou
a falar. – Há alguns anos, um grupo de guerreiros estava explorando nossa
floresta... Eu era apenas uma garotinha, uma curandeira iniciante...
Joy se lembrava como se fosse hoje.
...
Há alguns anos atrás uma pequena elfa caminhava na floresta.
Em sua mão havia flores amarelas que foram colhidas no caminho para casa.
Essa elfa era Joy.
Usava um vestido simples e branco e os cabelos soltos,
enfeitados pelas mesmas flores amarelas que carregava.
Mais adiante uma mulher estava ajoelhada no chão, de costas.
-- Mestra Silvanges! – Gritava Joy sorrindo enquanto corria
para a adulta.
-- Venha Joy! Vou ensinar-lhe algo... – Dizia a mulher de
longos cabelos marrons.
Assim que a pequena elfa se aproxima nota que na frente de
sua mestra há um filhote de veado. O filhote sangrava, e na sua barriga havia
uma bala feita de madeira. Joy e Silvanges não sabiam o que era e não se importavam
as balas e armas de fogo não são muitos conhecidas em Drimlaê, mas as duas se
preocupavam com o animal. Joy deixou cair todas as flores e correu para o
animal.
-- Caçadores... – Disse a adulta acariciando delicadamente a
cabeça do animal.
-- Mestra... Ajude-o... -- Disse a pequena garota, aflita.
-- Como está sua magia de cura, Joy? – A voz da adulta era
calma e suave, transparecia seriedade.
-- Eu não sou boa em magia, mestra, você sabe... Minha magia
não cura nem cortes... Só pequenos arranhões.
Silvanges sorriu e colocou a pequena mão da elfa perto do
corte do filhote.
-- Fecha os olhos... E cura...
-- Mas mestra...
-- Apenas cure...
Joy fechou os olhos e usou sua cura. Era uma cura fraca,
realmente, então Silvanges curou o ferimento do animal.
O filhote de veado pulou contente, e Joy abrindo os olhos
voltou-se a sorriu para a adulta.
-- Viu? – Sorriu Silvanges de volta. – Quando se quer...
Pode!
Ambas sorriam uma para a outra.
O som de pesados passos foram ouvidos vindo em direção às
duas.
-- Foi pra cá que o
animalzinho correu? – Perguntou um meio-orc alto e musculoso.
-- Foi sim, Maluak, eu vi... – Agora quem falava era um
anão, este montado em um grande e assustador javali.
Ambos tinham na cintura, espingardas.
-- Não tem animal, mas... – O meio-orc apontava para
Silvanges, seguido de um sorriso pervertido do anão.
-- Joy... Saia daqui... – Disse a mulher empurrando
levemente a garota.
-- Por quê? – Perguntou a elfa.
-- Saia Joy! – Silvanges se abaixava e segurava nos ombros
da menos enquanto a olha nos olhos. – Não importa o que aconteça... Não seja
uma adulta ruim, ame a natureza e acima de tudo lembre-se que perdoar sempre é
uma opção... – então empurrou novamente a garota que correu, ouvindo o som de
socos e gritos de sua mestra.
...
-- Eu... Sinto muito... – Falou Sarah ao terminar de ouvir a
historia.
-- Não sinta... – A elfa soltava um sorriso, embora triste,
consolável. – É por isso que não odeio os homens como algumas aqui... Você tem
duas opções para viver depois de sofrer algo... Viver uma eterna vida de ódio
cego ou como disse a mestra Silvanges... Perdoar... A forma mais pura da
liberdade...
A elfa sorriu e Sarah guardaria essas palavras para
sempre...
Ambas ficaram alguns minutos em silencio, descansando, até
que Layllian e Sam se aproximaram.
-- Sarah! – Disse a rainha amazona. – Preciso falar com
você...
Continua...
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