quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Sarah - Capítulo 6 - Perdoar


A notícia de que Sarah iria falar oficialmente com Layllian voou quando Joy contou À rainha. Era quase meio-dia e o sol pendia forte e poderoso no meio do céu.

As amazonas estavam no meio da aldeia, pararam seus trabalhos e estavam ansiosos, todas sabiam da visão de Joy, todas sabiam que Sarah seria  sua nova rainha.
E lá vinha ela...
Sarah era uma mulher submissa e aparentemente fraca, mas era decidida e certa de suas escolhas e sempre agia de seu modo... Quando podia agir...
Havia uma pequena elevação, e sobre essa elevação uma tenda grande e rodeada por lanças cravadas na terra com pontas para cima. Sua entrada estava sempre fechada e sobre ela o símbolo de uma deusa antiga e feminista.
Uma viúva-negra.

Havia um longo tapete feito de pele de lobo-das-cavernas, que corria por quase cinco metros de sua entrada.
Sarah finalmente pisou no tapete, sentia não o macio do pelo, ou o calor do sol. Sentia que sua vida mudaria.
Para melhor.
A entrada da grande tenda fora aberta, de dentro dela saíra Sam. Seus músculos pareciam ainda maiores e seu rosto era eternamente sério e furioso.
Sarah estava no meio do tapete, sentira medo, pensou em voltar, mas assim que deu um passo para trás sentira a mão de Joy em suas costas.
Então caminhou para frente.
Sarah adentrou a tenda sob o olhar odioso de Sam e o sorriso de Joy.
...
Havia uma grande mesa. Sobre a mesma, um mapa antigo com vários botões em cima. Sarah não percebeu, mas os botões representavam a guarda de proteção das amazonas.
Havia vasos, cadeiras e uma cama no canto. Cabiam, talvez, dez ou doze guerreiras. Sentada de um lado da mesa estava Layllian.
A rainha amazona parecia calma, mas totalmente majestosa. Uma majestade muito superior a que Sarah aparentava naquele momento. Talvez pela amazona estar no seu lugar e ela não.
-- Rainha Sarah... – Layllian sorriu e levantou-se.
Sarah fez uma reverencia digna de uma rainha.
-- Creio que não seja necessário tanta formalidade.
Sarah continuou em silencio.
-- Você aceitou... Isso é bom, mas não suficiente. – Layllian levantou-se e aproximou-se à outra. – Sarah... Você tem certeza disso?
Os olhos das rainhas se encontraram.
-- Não... Não tenho certeza... – Disse Sarah. – Mas decidi arriscar... Para sentir... A liberdade...
Layllian sorriu, via tanto de si na outra.
Abraçou-a e ambas saíram da tenda. As amazonas olhavam para as duas rainhas, quando Layllian acenou e fora seguida por palmas.
Apenas uma mulher não bateu palma. Sam.
A grande e robusta mulher colocou a mão no ombro de Layllian e acenou, a rainha entendeu e a acenou de volta.
...
Sarah era realmente uma rainha diplomática, em uma tarde conheceu muitas das amazonas e resolveu muitos de seus problemas, tornando-se popular rapidamente.
Cada mulher que conhecia, conhecia historias diferentes. Passados assustadores, marcados por tristezas e dramas, mas mulheres fortes o suficiente para superar qualquer dificuldade.
Por algum motivo sentia-se bem ali. Sentia-se importante.
-- Ufa! Que canseira! – Dizia Sarah sentando-se embaixo de uma árvore. O sol estava agradável, e os ventos, como em toda Drimlaê, pareciam mágicos.

-- Difícil ser rainha? – Perguntou Joy, a elfa, também sentando.
-- Eu sempre fui rainha, Joy... – Sarah a olhou seria, mas depois sorriu. – Mas só agora estou sentindo realmente o que é ser. – A mulher sorriu mais, mas agora era para si mesma. – Eu sempre fui para festas, sempre estive lá, sorrindo e acenando docemente. Mas nunca realmente conversava com as pessoas, nunca soube de seus problemas, nem mesmo tive a chance de resolver e me sentir importante.
Sarah levantou-se animada, ficando de joelhos.
-- Joy... Aprendi coisas com essas amazonas que se Tyrus tivesse esse conhecimento poderia ajudar não só elas... Mas Drimlaê inteira!
A elfa sorriu, era como se Sarah pudesse ser ela mesma.
A outra se voltou a sentar e olhou a elfa.
-- Joy... Uma coisa que notei que quase todas as amazonas tem em comum são problemas com homens. Mas você não teve né?
O rosto de Joy entristeceu um pouco.
-- Na verdade tive sim... – Ela olhou para o céu e começou a falar. – Há alguns anos, um grupo de guerreiros estava explorando nossa floresta... Eu era apenas uma garotinha, uma curandeira iniciante...
Joy se lembrava como se fosse hoje.
...
Há alguns anos atrás uma pequena elfa caminhava na floresta. Em sua mão havia flores amarelas que foram colhidas no caminho para casa.
Essa elfa era Joy.
Usava um vestido simples e branco e os cabelos soltos, enfeitados pelas mesmas flores amarelas que carregava.

Mais adiante uma mulher estava ajoelhada no chão, de costas.
-- Mestra Silvanges! – Gritava Joy sorrindo enquanto corria para a adulta.
-- Venha Joy! Vou ensinar-lhe algo... – Dizia a mulher de longos cabelos marrons.
Assim que a pequena elfa se aproxima nota que na frente de sua mestra há um filhote de veado. O filhote sangrava, e na sua barriga havia uma bala feita de madeira. Joy e Silvanges não sabiam o que era e não se importavam as balas e armas de fogo não são muitos conhecidas em Drimlaê, mas as duas se preocupavam com o animal. Joy deixou cair todas as flores e correu para o animal.

-- Caçadores... – Disse a adulta acariciando delicadamente a cabeça do animal.
-- Mestra... Ajude-o... -- Disse a pequena garota, aflita.
-- Como está sua magia de cura, Joy? – A voz da adulta era calma e suave, transparecia seriedade.
-- Eu não sou boa em magia, mestra, você sabe... Minha magia não cura nem cortes... Só pequenos arranhões.
Silvanges sorriu e colocou a pequena mão da elfa perto do corte do filhote.
-- Fecha os olhos... E cura...
-- Mas mestra...
-- Apenas cure...
Joy fechou os olhos e usou sua cura. Era uma cura fraca, realmente, então Silvanges curou o ferimento do animal.
O filhote de veado pulou contente, e Joy abrindo os olhos voltou-se a sorriu para a adulta.
-- Viu? – Sorriu Silvanges de volta. – Quando se quer... Pode!
Ambas sorriam uma para a outra.
O som de pesados passos foram ouvidos vindo em direção às duas.
-- Foi  pra cá que o animalzinho correu? – Perguntou um meio-orc alto e musculoso.
-- Foi sim, Maluak, eu vi... – Agora quem falava era um anão, este montado em um grande e assustador javali.
Ambos tinham na cintura, espingardas.

-- Não tem animal, mas... – O meio-orc apontava para Silvanges, seguido de um sorriso pervertido do anão.
-- Joy... Saia daqui... – Disse a mulher empurrando levemente a garota.
-- Por quê? – Perguntou a elfa.
-- Saia Joy! – Silvanges se abaixava e segurava nos ombros da menos enquanto a olha nos olhos. – Não importa o que aconteça... Não seja uma adulta ruim, ame a natureza e acima de tudo lembre-se que perdoar sempre é uma opção... – então empurrou novamente a garota que correu, ouvindo o som de socos e gritos de sua mestra.
...
-- Eu... Sinto muito... – Falou Sarah ao terminar de ouvir a historia.
-- Não sinta... – A elfa soltava um sorriso, embora triste, consolável. – É por isso que não odeio os homens como algumas aqui... Você tem duas opções para viver depois de sofrer algo... Viver uma eterna vida de ódio cego ou como disse a mestra Silvanges... Perdoar... A forma mais pura da liberdade...
A elfa sorriu e Sarah guardaria essas palavras para sempre...
Ambas ficaram alguns minutos em silencio, descansando, até que Layllian e Sam se aproximaram.
-- Sarah! – Disse a rainha amazona. – Preciso falar com você...
Continua...

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