Uma garota corria em meio a uma floresta. Seus cabelos azuis e o grande e enfeitado vestido branco balançavam enquanto a mesma se atrapalhava com os galhos das arvores que pareciam atrapalhar sua corrida, rasgando seu vestido em algumas partes. Não era apenas um passeio, ela corria para salvar sua vida de seus perseguidores.
Uma dupla de gnolls corria atrás da garota enquanto sorriam alto e pareciam se divertir.
Fazia aquilo por diversão ou por fome?
...
Hanami tinha saído de sua cidade, sem nada em mãos a não ser suas duas espadas, era tudo que ela ia precisar, tinha fé e sua honra embora julgada, ainda estava intacta. Ser uma mulher samurai, isso doía em seu coração, a batalha era para todos, mas não ia ser ela que mudaria toda uma cultura de um povo, ainda mais o seu povo... Eles dão tanto valor às tradições.

A samurai se encontrava na frente de um dos pequenos santuários de Liaavel que havia pelo continente. O sacerdote da deusa, um velho que trajava vestes de seda vermelha purificava o local. Assim que terminou suas orações, Hanami partiu. Havia deixado seu pai, sabia que ele ia se virar bem, talvez até melhor sem ela, por isso seu coração estava tranqüilo. Tranqüilo mas triste. Não pelo só pelo seu pai, mas seu coração se recordava de Daisuke, fora seu único amigo desde que entrara naquela escola para novos samurais. Na escola havia tantas pessoas arrogantes, mesquinhas, isso era típico de Darcael. Mas lembrava-se da primeira vez que conhecera Daisuke, o favorito de todos, sempre o perfeito, isso causava muita inveja, ela mesma não foi com a cara dele de inicio, mas não se deve julgar um livro pela capa... Jamais...
Hanami realmente não sabia para onde ir, saiu pelo peso do julgamento das pessoas, mas não estava realmente preparada para partir, nem pensava nisso, mas foi inevitável.
O santuário de Liaavel se encontrava perto de um grande penhasco. Hanami se aproximava do mesmo. Abaixo do penhasco havia uma floresta, só o que se podia ver eram as copas das arvores, folhas cobriam-na como um grande tecido verde, nem se podia ver o que acontecia na floresta. A samurai não sabia mesmo que iria fazer a partir daquele instante, então sentou-se na beira do penhasco enquanto admirava um grupo de pássaros que entrava e saia da floresta.
O vento passava pelos cabelos compridos da mulher. Tentava fazer mentalmente um percurso no qual iria seguir agora, mas era inútil. Hanami tirou o colar dado na escola de samurais, fitou bem aquele belo pingente, o símbolo de Liaavel, “como era belo” ela pensou. Sentia-se um lixo por dentro, deixara para trás sua cidade por medo de olhares, como ela poderia se considerar uma samurai?
-- Liaavel dai-me forças... – Assim que terminara de falar soltou um suspiro profundo e com o movimento do corpo o colar abaixou um pouco, a luz do sol bateu no pingente e o reflexo foi direto nos olhos rasgados da Solaseliana, fazendo-a derrubar o colar.
A surpresa fora enorme quando ela vira seu colar caindo entre as folhas das arvores da floresta abaixo, ficou paralisada com o que acabara de acontecer. Num rápido movimento Hanami tirou sua katana e cravou-a no chão na ponta do penhasco e assim desceu rasgando a rocha devagar. Assim que chegou ao chão viu-se na pequena floresta, abaixo das arvores era bem mais escuro, parecia fim de tarde, enquanto acima era ainda por volta de meio-dia. A mulher caminhou um pouco para onde mentalmente calculou que o colar havia caído e por sorte ou cálculos bem feitos lá estava o colar, assim que se tocara no colar, um susto...
Uma garota com um enorme vestido caíra sobre ela, vários tecidos brancos voaram e o rosto de uma meio-elfa ficou perto do da samurai, ela estava chorando e um pouco machucada, seus cabelos azuis estava bagunçados e sua respiração estava pesada e dividida com som que saia de seu nariz a chorar.
-- Me ajuda, por favor... Ajuda-me... – Clamou ela em meio a mais lagrimas.
Antes que Hanami pudesse falar qualquer coisa viu que atrás da garota vinham dois gnolls, seres humanóides que parecia a misturados com hienas. Os gnolls sorriam e carregavam nas mãos machados.
-- Olha agora vamos comer dobrado! – um dos gnolls falou seguido pelo sorriso do outro.
Hanami olhou para a meio-elfa e levantou.
-- Fique aqui! – ela disse colocando a mão na frente da outra.
Os gnolls sorriam quando a samurai apenas caminhou até a rocha tirando a katana que ainda estava cravada nela.
...
Gnolls mortos.
Era o que se encontrava no chão naquele momento. Hanami limpava sua katana, tirando todo sangue impuro de sua arma. A garota de cabelos azuis estava agradecida embora um pouco assustada com a carnificina que acabara de testemunhar.
-- Prazer meu nome é Layla... Obrigada por me ajudar... -- Ela estendeu a mão.
Hanami olhou para a mão da outra e não entendeu, apenas fez uma simples reverencia na sua frente. – Foi um prazer ajudar... Agora vá com Liaavel e tenha um bom dia... – A samurai apenas começou a caminhar.
Alguns minutos se passaram, Hanami se via sozinha na floresta, dessa vez notava que estava perdida, não sabia ao certo como voltar, no meio da luta com os gnolls acabou perdendo o senso de direção e achava naquele momento que estava caminhando em círculos.
De repente um vulto na floresta.
A mulher logo se assustou, e como reflexo, pegou sua katana e a segurou fortemente em suas mãos treinadas. O vulto se aproximava mais e mais, era alguma coisa quase do seu tamanho, saia de dentro das sombras, no mesmo momento, num rápido movimento a wakizashi da samurai foi lançada por ela em direção aquilo que se aproximava.
Um grito de susto e a wakizashi estava presa em uma arvore acima da cabeça de Layla que estava caída no chão:
-- Você é louca? – Gritou a meio elfa olhando para a wakizashi que ainda balançava fincada no tronco da arvore. – Podia ter me matado...
-- Louca é você... – falou a humana enquanto caminhava para pegar sua arma novamente. – que idéia é essa de me seguir?
A meio-elfa se levanta e com o rosto vermelho de vergonha e com falta de jeito diz: -- Er... É que eu to perdida... Será que podia me dizer onde estamos?
Hanami olhou bem nos olhos da garota e depois de um suspiro demorado disse:
-- Estou perdida também... Não vou poder ajudar muito...
-- Bem... poderia me ajudar começando a me dizer se ainda estou em Gensõ...
Hanami sorriu um pouco na frente da outra. – Claro que está em Gensõ... Gensõ, Darcael, provavelmente em Solasel...
-- Darcael? – Gritou Layla cortando a outra. – Deusa... Como vim parar em Darcael?
-- Você realmente não parece ser daqui... – Disse Hanami olhando bem para a outra, vendo seu grande vestido, com certeza um vestido de casamento.
-- Ah! Sim... Eu sou do continente de Drimlaê...
-- Drimlaê? É realmente muito longe, como você veio parar aqui?
Layla se se encostou a uma arvore...
-- Na verdade nem eu mesma sei... Eu ia me casar hoje, mas com um homem que eu nem mesmo conheço. Eu queria muito fugir desse casamento... Só quero casar com quem eu realmente amo, eu estava me arrumando para a celebração e quando me virei pra janela do meu quarto... Uma pena com um bilhete dizendo que eu poderia fugir se usasse aquilo... Eu realmente fugi, mas cá estou...
-- hum... Magia... Por isso que não confio muito nesse artifício, uma coisa sempre da errado quando tem magia no meio...
Layla virou-se para Hanami:
-- E você? Está perdida por quê?
-- Na verdade eu me perdi agora nessa floresta...
Mais uma vez antes que a outra terminasse, Layla segura as mãos da samurai e olhando nos seus olhos pede:
-- Podemos ir juntas? Vi como você derrubou aqueles gnolls, um pouco assassino demais, eu admito, mas você é forte... Eu... Não sou tão forte quanto você... Vamos encontrar a saída desse local juntas...
Hanami tirou as suas mãos das mãos da outra e virou-se de costas...
-- Eu não tenho opção... Não vou deixar você aqui nessa floresta sozinha, seria uma desonra para uma samurai de Liaavel. – No mesmo instante a lamina de sua katana estava a centímetros do nariz da meio-elfa. – Agora se você não for confiável, ou uma maldita mística, inimiga de Liaavel eu vou fazer com você pior do que eu fiz com aqueles gnolls, entendida?
Layla se assustou a principio, mas então empurrou a katana levemente e disse:
-- Não se preocupe, não sou mística e muito menos alguém que não pode confiar... Apenas quero encontrar meu caminho de volta, acabar com isso...
A katana soltou um silvo enquanto era guardada de volta à bainha.
-- Então vamos sair dessa maldita floresta! – Disse Hanami sendo seguida pela sua nova amiga.